Logo O POVO+
A sociedade brasileira é conservadora?
Foto de Paulo Henrique Martins
clique para exibir bio do colunista

Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)

A sociedade brasileira é conservadora?

Há setores sociais que são conservadores sem serem necessariamente antidemocráticos. As pessoas votam na direita muitas vezes por buscar proteção em instituições que valorizam a família e a segurança comunitária

O termo conservar significa no latim guardar ou preservar. A crítica intelectual brasileira, no entanto, prefere limitar o uso do termo conservadorismo àquele de autoritarismo. Evita-se discutir a possibilidade de que o conceito seja usado para definir ideias e práticas não autoritárias. Esta negação é um erro politico inibindo um entendimento mais profundo da relação ambivalente entre progressismo racionalista e conservadorismo institucional.

O movimento conservador surge como reação anti-iluminista contra o progressismo racionalista assim como a sombra emerge com a luz. No fundo, temos reações diversas contra os rumos da revolução francesa que assustou os mais ousados como Hegel que aderiu ao conservadorismo no seu "Princípio da Filosofia do Direito" (1920). Houve reações também antiindustrialistas como aquelas nostálgicas do feudalismo em Chateaubriand e Bonald. Mas nem sempre foi assim.

O romantismo alemão de Schiller, Goethe e Schelling contestava o racionalismo cartesiano por o considerarem muito simplificado, sem dar conta dos elementos estéticos da modernidade. Os franceses com Comte e Durkheim entendiam que o progresso, inclusive o industrial, deveria ser fundado numa ordem institucional e moral reguladora como o Estado, por exemplo. Os franceses nunca confiaram no utilitarismo racionalista. O inglês Burke ajuda a entender que conservadorismo não significava automaticamente autoritarismo quando se posicionou a favor da revolução norte-americana e da democracia parlamentar, embora sendo contra a ruptura institucional dos revolucionários franceses.

Por tudo isto, é importante não se reduzir o conservadorismo ao autoritarismo, pois há setores sociais que são conservadores sem serem necessariamente antidemocráticos. As pessoas votam na direita muitas vezes por buscar proteção em instituições que valorizam a família e a segurança comunitária. Mas este conservadorismo comunitário também está presente nas lutas dos indígenas pela preservação de suas terras ou dos ambientalistas em defesa da conservação da natureza. Enfim, o debate sobre democracia pode se ampliar caso superemos uma leitura simplificada do conservadorismo e do progressismo para repensarmos os horizontes da politica.

 

Foto do Paulo Henrique Martins

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?