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A festividade é uma dádiva de alegria
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Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)

A festividade é uma dádiva de alegria

O carnaval aparece como um momento precioso para converter a lógica do mercado em regras solidárias da dádiva, a serem celebradas com prazer mútuo. Trazer a alegria para a vida é uma justa homenagem ao deus Baco
RECIFE, PE, 13.02.2015: CARNAVAL-PE - Preparativos para o bloco Galo da Madrugada, na ponte Duarte Coelho, no centro do Recife, nesta sexta-feira. O símbolo do maior bloco de carnaval foi montado com partes 100% ecológicas, no bairro da Boa Vista. Neste a novidade é um saxofone dourado no peito, em homenagem ao Maestro Spok e ao Clube Bola de Ouro, que comemora 100 anos de fundação em 2015. A gigante escultura de 27 metros de altura e 33 toneladas. (Foto: Veetmano Prem/AgênciaJCM/Fotoarena/Folhapress) (Foto: )
Foto: RECIFE, PE, 13.02.2015: CARNAVAL-PE - Preparativos para o bloco Galo da Madrugada, na ponte Duarte Coelho, no centro do Recife, nesta sexta-feira. O símbolo do maior bloco de carnaval foi montado com partes 100% ecológicas, no bairro da Boa Vista. Neste a novidade é um saxofone dourado no peito, em homenagem ao Maestro Spok e ao Clube Bola de Ouro, que comemora 100 anos de fundação em 2015. A gigante escultura de 27 metros de altura e 33 toneladas. (Foto: Veetmano Prem/AgênciaJCM/Fotoarena/Folhapress)

Posso ajudar, por favor? Vamos celebrar? Todos os dias, o dia todo, vivemos estes rituais de trocas solidárias: nos círculos de familiares e de amigos, no trabalho e nos encontros festivos. Ou seja, para haver relacionamento sincero alguém tem que tomar a iniciativa de oferecer algo a outrem como prova de generosidade espontânea.

A pessoa convidada para o ritual pode até recusar a gentileza. Neste caso, nada muda. Mas caso aceite, o milagre acontece: a vida se torna uma dádiva e gera o pacto social. Aceitando livremente a gentileza, o destinatário pronuncia a palavra mágica: "obrigado". O agraciado é convidado a retribuir a gentileza e assim brotam o pertencimento e as redes sociais. O agradecimento funda uma obrigação simbólica entre as partes. De nada, foi um prazer!!! A dádiva/dom é um mistério. Ela revela uma regra arcaica universal - dar-receber-retribuir - que Mauss observou em todas sociedades já existentes.

O dom valoriza a aposta na confiança para gerar pactos - morais, jurídicos e afetivos -, coletivos e individuais, envolvendo próximos e estranhos. Ele promove o prazer de viver juntos desconstruindo ressentimentos e conflitos.

A dádiva festiva é a prova de que a vida não é apenas consumo individualista e que a reciprocidade mútua espontânea é politicamente mais interessante que aquela mercantil do dar-pagar que produz anônimos e estranhos. Por tudo isto, o carnaval aparece como um momento precioso para converter a lógica do mercado em regras solidárias da dádiva, a serem celebradas com prazer mútuo. Trazer a alegria para a vida é uma justa homenagem ao deus Baco. Amigos e adversários se abraçam, ressentimentos são dissolvidos por canecas de cerveja que tilintam no ar.

A rua se torna um palco mágico para as pessoas se olharem e sorrirem no ritmo do batuque e da dança. Este é um momento único para se desconstruir o egoísmo e se festejar a vida como experiência da alegria.

 

Foto do Paulo Henrique Martins

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