
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Nelson Rodrigues cunhou a máxima: toda unanimidade é burra.
Que Madonna é genial como marqueteira, ninguém duvida. Mas acho que o amor por Madonna no Brasil é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas.
Deixem-me argumentar, antes que o mundo caia sobre minha cabeça.
Primeiro assisti estupefato alguns dos grandes defensores e articuladores da cultura brasileira defenderem o show da Madonna como ápice cultural do Brasil. O argumento é de economia da cultura.
Amigos, desde quando consumir e importar freneticamente produtos da indústria cultural mundial é participar dela?
A eficácia simbólica, a força midiática, a capacidade de produzir bens simbólicos e vendê-los é deles. O País de joelhos para Madonna é uma derrota para a cultura brasileira.
Nossa submissão que mostra um momento de fragilidade e situação subalterna e periférica da nossa produção cultural.
Imagine se o cinema brasileiro fizesse uma festa inimaginável para que um filme americano - qualquer que seja - atingisse milhões de bilheteria?
E a humilhante situação de Anitta de participar como uma mera figurante me deixou de queixo caído. O Madonnismo tirou nossa capacidade crítica. Falo aqui de uma crítica à esquerda e não da direita histérica.
Ah, mas a Madonna é revolucionária como feminismo, de gênero e esteticamente, dizem alguns.
Para quem pensa ingenuamente nessa bondade da loira sugiro que leia o texto visceral da Bell Hooks "Madonna: amante da casa-grande ou irmã de alma?"(Está no livro Olhares Negros).
Hooks (1952-2021) foi uma pensadora negra americana, professora, teórica feminista, artista e ativista antirracista que teve seu pensamento profundamente influenciado por Paulo Freire.
Abaixo alguns pontos do Madonnismo criticado por ela.
Sobre a cultura
negra de Madonna
Hooks começa por desconstruir o uso que Madonna faz da cultura negra.
"'Estrelas' brancas como Madonna, Sandra Bernhard e muitas outras falam publicamente sobre seu interesse pela cultura negra, da apropriação que fazem dela, como mais um símbolo de sua elegância radical. Elas buscam intimidade com aquela negritude 'indecente' da qual as boas moças brancas mantêm distância. Para consumidores brancos e não negros, isso confere a elas um sabor especial, um tempero extra. Afinal, é um fenômeno histórico recente que qualquer garota branca possa ir longe ostentando sua fascinação e inveja da negritude. O problema com a inveja é que ela é sempre capaz de destruir, apagar, dominar e consumir o objeto de seu desejo. É exatamente isso o que Madonna tenta fazer quando se apropria de aspectos da cultura negra e os transforma em mercadoria".
Sobre a origem proletária de Madonna e a ambição loira
Bell mostra neste texto que a fascinação cultural que Madonna desperta usa até mesmo aspectos de classe.
"Madonna frequentemente se recorda de que era uma moça branca da classe trabalhadora que se achava feia, fora do padrão de beleza dominante. E, de fato, o que algumas de nós gostamos nela é a forma como desconstrói o mito da beleza natural branca ao expor até que ponto ela pode ser, e geralmente é, construída e mantida artificialmente.
Ela zomba do ideal de beleza convencional racista ao mesmo tempo que se esforça para incorporá-lo. Dada a sua obsessão em expor a realidade de que a beleza feminina ideal nesta sociedade pode ser obtida por artifício e construção social, não deveria surpreender que muitos de seus fãs sejam homens gays, e que uma maioria de homens não brancos, particularmente os negros, estejam entre eles. O filme de Jennie Livingston, 'Paris Is Burning', sugere que muitos gays negros, especialmente divas e drag queens, são movidos pela 'ambição loira' assim como Madonna".
Sobre a performance
machista da garota loira branca
Hooks segue seu pequeno e corrosivo ensaio argumentando que após usar a cultura negra, a diversidade sexual, a imagem que Madonna mais explora é a "garota branca" por excelência.E finalmente mostra como todo o arsenal de truques de Madonna é fálico, portanto machista.
"Em suas mais recentes apropriações da negritude, Madonna quase sempre imita a masculinidade negra fálica. Embora eu tenha lido muitos artigos que falavam sobre como ela se apropria de códigos masculinos, nenhum crítico parece reparar em sua ênfase na experiência do homem negro. No perfil que escreveu na revista Playboy, 'Playgirl of the Western World' [Playgirl do mundo ocidental], Michael Kelly descreve o gesto de Madonna de segurar a virilha como 'uma subversão visual eloquente do orgulho fálico masculino'. Ele comenta que ela trabalhou com o coreógrafo Vincent Paterson para aperfeiçoar o gesto. Embora Kelly diga aos leitores que Madonna estava imitando Michael Jackson conscientemente, ele não contextualiza sua interpretação do gesto para incluir esse ato de apropriação da cultura negra masculina. E, naquele contexto específico, o gesto de agarrar a virilha é uma afirmação do orgulho e da dominação fálicos que geralmente
expressa o desejo de ter o poder que ela percebe que os homens têm. Madonna pode odiar o falo, mas deseja ter o seu poder. Ela está, em primeiro lugar e principalmente, sempre rivalizando com os homens para ver quem tem o pau maior. Ela anseia por afirmar o poder fálico e, como qualquer outro grupo nesta sociedade supremacista branca, claramente vê os homens negros como personificando uma qualidade de masculinidade que escapa ao homem branco.
Sobre a blindagem ideológica de Madonna
Finalmente Hooks discute como a indústria pop criou um mito que resiste a qualquer crítica.
"Podemos ver esse artista como à prova de críticas. Ou podemos sentir que nossa crítica não irá intervir na idolatria a esse artista como um ícone cultural.
Entretanto, não falar nada é ser cúmplice das mesmas forças de dominação que fazem a 'ambição loira' necessária para Madonna alcançar o sucesso.
Tragicamente, tudo no trabalho de Madonna que é transgressor e potencialmente empoderador para mulheres e homens feministas pode ser enfraquecido por tudo o que ele contém de reacionário e que não é, de forma alguma, incomum ou novo. Em geral, são os elementos conservadores em seu trabalho, que convergem com o status quo, os que têm maior impacto.
A escolha de Izolda
Izolda Cela está vivendo um dilema que é uma verdadeira escolha de Sofia. Cid e Ivo querem que ela seja candidata à prefeitura de Sobral. Camilo Santana quer que ela continue no MEC.
Parece simples. Vejam a complexidade.
Ser prefeita significa ter votos a partir daí. Ter capacidade de decidir seu futuro. Continuar como a segunda de Camilo é exercer um cargo onde pode fazer o que sabe: trabalhar com educação. Mas, ao mesmo tempo, passa a ter baixa autonomia.
É a escolha
de Sofia.
A palavra Sofia podemos traduzir como sabedoria ou conhecimento. É a Pitágoras de Samos (571 a.C. - 496 a.C.) que se atribui a invenção da palavra.
O romance, que popularizou o termo, narra o envolvimento de Stingo, um aspirante a escritor, com a bela Sofia, sobrevivente de um campo de concentração de Auschwitz e assombrada pela terrível escolha que precisou fazer um dia que não somente definiu o resto da sua vida, como também se tornou uma expressão idiomática: fazer uma "escolha de Sofia" significa ver-se forçado a optar entre
duas alternativas igualmente insuportáveis.
No caso de Izolda são duas escolhas bem suportáveis. De quebra, Camilo vai tirar uma carta de manga. Vai oferecer a vice para a filha Luisa Cela.
A cachaça de Viçosa Double Gold
A Cachaça Viçosa Real Reserva ganhou a medalha Double Gold, que é o prêmio máximo da San Francisco World Spirits Competition - a maior e mais prestigiada competição mundial do gênero de bebidas destiladas. A medalha Duplo Ouro só é obtida quando todos os 70 especialistas consagram unanimemente a bebida.
A Cachaça Viçosa Real Prata, fruto do talento de Clóvis Mapurunga, também ganhou medalha de prata na mesma competição. Esse prêmio é um indicador universalmente reconhecido de qualidade na destilação, envelhecimento e pureza da bebida.
Tivesse o Ceará um pouco mais de sofisticação no comando do turismo, essa cachaça se tornaria um trunfo da nossa cultura na dimensão que o Pisco se tornou para o Peru.
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