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Medellin, si se puede hacer por aquí
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Medellin, si se puede hacer por aquí

As mudanças da segurança pública que saíram da universidade para a realidade política
Tipo Opinião
Conflito de facções está presente no cotidiano de Fortaleza (Foto: Júlio Caesar)
Foto: Júlio Caesar Conflito de facções está presente no cotidiano de Fortaleza

Tomo meu café da manhã, em um dia de sol abafado, depois de mais uma noite de chuvas, na última quinzena do inverno no Ceará.

Diálogo de Dona Irene, minha assessora para assuntos ordinários e extraordinários, moradora do Genibaú, e minha sogra Dona Wanda.

Errei o caminho das minhas andanças, meu cooper no bairro me levou a um quarteirão muito agressivo, conta dona Wanda.

É que a senhora entrou numa área do GDE. O GDE não cuida das pessoas, é muito barra pesada. No Genibaú é o CV.

O Comando Vermelho é pelo menos um pouco mais educado, diz Dona Irene.

Então Dona Irene começa a explicar bairro por bairro quem comanda e quem disputa. O tabuleiro da cidade é conhecido pelo seu povo.

A mão invisível do mercado do crime, para usar uma expressão de Bruno Paes Manso, disputa cada rua, cada bairro da cidade, palma a palmo, bala a bala. E o povão acompanha como num jogo de xadrez.

O resultado dessa disputa está nas estatísticas:

O Ceará teve no primeiro trimestre deste ano a segunda maior taxa de assassinatos por 100 mil habitantes do Brasil, conforme dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

Com os 819 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs — soma de homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte), registrados nos três primeiros meses de 2024, o Estado ficou com uma taxa de 37,25 assassinatos por 100 mil habitantes.

Só Pernambuco teve uma taxa maior no Brasil.

Os especialistas são unânimes: o Ceará investiu errado. Aumentou a tropa sem qualificação (tem a quinta maior do País), sem tecnologia e sem expertise em investigação.

São Paulo e Santa Catarina têm a menor taxa de homicídios por cem mil habitantes e as menores tropas do Brasil (por cem mil habitantes, claro).

São Paulo tem também a melhor tecnologia de segurança pública e leva dois anos para qualificar um PM, enquanto estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará teimavam em botar gente na rua em três meses.

Trezentos mortos por mês é três vezes a taxa de mortos nas enchentes do RS.

Na Colômbia, onde o narco dominava cidades como Medellin, esse problema foi resolvido pela esquerda. Um reitor da Universidade, cheio de ideias, entrou na política, venceu as eleições e mudou a periferia da cidade.

No Ceará, a elite liberal não está nem aí.

São os pobres que estão se matando, sorriem e comentam a boca miúda.

E as facções, espertamente, não tocam na classe média branca que circula soberanamente com suas bandeiras brasileiras nos seus carrões.

Quem morre são jovens pobres, mais de 50 por cento, e negros.

A UFC tem um dos melhores centros de excelência em pesquisa sobre Segurança Pública do país (o Laboratório de Estudos da violência - LEV).

Não chegou a hora da Universidade entrar de verdade na arena política?

Custódio, Diana, Luiz Fábio, preparem as alpargatas e o título de eleitor, precisamos mudar, de fato, a vida dos mais pobres no Ceará.

Buenos Aires em chamas.

Entre Heidegger e Javier Milei

Greve nas federais. Universidades sucateadas enquanto o parlamento se esbalda em verbas.Extrema direita mordendo os calcanhares para entregar tudo ao mercado.

Não, não estou falando do Brasil. Falo da Argentina pouco antes da posse de Javier Milei, que veio para destruir definitivamente a educação e a cultura Argentina.

Está tudo em "Puan", Filme argentino (disponível para o Brasil no Amazon Prime), escrito e dirigido pela dupla María Alche e Benjamin Naishtat.

Puan, que é atualmente a produção mais assistida pelos hermanos, é uma comédia dramática, que narra o dia a dia das disputas do departamento de filosofia da Universidade de Buenos Aires, situado no distrito de Puan, na Grande Buenos Aires.

Marcelo Pena (Marcelo Subiotto) é um professor universitário de Filosofia fissurado em Martin Heidegger e cujo mundo sofre um verdadeiro baque com a repentina morte de seu mentor, a figura chave do seu departamento.

Sua vida familiar, balança entre a instabilidade econômica, no qual o pagamento de bolsas de estudo e salários aos professores é uma constante incerteza, e a busca por manter uma reflexão e uma criação filosófica de qualidade. Sua esposa, Vicky (Mara Bestelli), é uma determinada militante feminista que busca apoiar e motivar o marido, segurando as pontas na criação do filho, Manolo (Gaspar Offhenden), o ator revelacão que fez a série sobre o cantor Fito Paes.

A já frágil luta diária, que inclui tanto aulas particulares a uma milionária (Zulema Galperin) quanto nas regiões periféricas da capital do país, encontra um novo desafio na forma do antigo colega e também professor Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), recém-chegado da Alemanha, que é uma figura carismática, articulada e bem sucedida, geralmente visto em notícias graças a seu romance com uma atriz famosa (Lali Esposito). Seu retorno, inicialmente visto com ceticismo e desconfiança pelos outros membros da universidade, acaba envolvendo mesmo os mais reticentes, e não tarda para que Sujarchuk comece a atrair a atenção de alunos com seu discurso apaixonante, exatamente o contrário do estilo mais reflexivo de Marcelo. E, quando a abertura da vaga deixada pelo falecido mentor se torna um alvo para seu oponente teórico, Pena se pergunta sobre as grandes questões da política e seu impacto sobre sua existência.

"Puan" é, antes de mais nada, um filme de roteiro bem construído, o que é um clássico do cinema argentino. As cenas nos ambientes da universidade e nos subúrbios são envolventes e cheias de sacadas inteligentes.

Mas o elenco é o charme que segura o bem amarrado enredo: Marcelo Subiotto, um professor de filosofia atrapalhado no papel do protagonista e o seu oponente, o professor Sujarchuk, vivido por Leonardo Sbaraglia , inicialmente como uma figura inconveniente e pretensiosa como todo deslumbrado aprendiz colonizado, fazem uma dupla que prendem o espectador e servem como demonstrações das lutas simbólicas do campo acadêmico.

O garoto Gaspar Offhanden, que já havia encantado no papel do jovem Fito Paez (na série "El Amor Despues Del Amor", da Netflix) é uma atração à parte, merece até um filme só dele, como filho de intelectual complexo e torturado pelas dúvidas.

O fato de "Puan" ser o filme mais assistido na Argentina no momento atual de desmonte das políticas de educação e cultural diz algumas coisas.

Primeiro pela presença forte na política do cinema argentino. Quanto tempo faz que o cinema brasileiro não acerta uma bilheteria que faça uma boa leitura do país?

Segundo, a capacidade de produzir bons roteiros do cinema argentino é impressionante. Uma vez perguntei ao meu amigo Marcos Moura uma explicação para esse desempenhos dos hermanos. Ele me respondeu com uma pergunta: sabe quanto tempo faz que eles têm escolas de roteiro? A primeira delas é mais velha que o cinema brasileiro. Foi quando, desafiado, criei nosso centro de dramaturgia.

E por fim, o talento dos atores argentinos é algo impactante. Marcelo Subiotto, o professor heideggeriano absorto em seus dilemas filosóficos, e os dramas existenciais em um país em ruínas é fascinante. Assistam.

As marcas das boas políticas públicas cearenses

Essa semana as boas políticas públicas cearenses criadas em tempos passados explodiram em Recife e em Cannes.

Em Recife, a governadora lançou o projeto Cientista Arretado, que é o cientista chefe cearense versão pernambucana. No comando cientifico, o pai criador, Tarcisio Pequeno, com seu brilho e inteligência.

Em Cannes, Karim Ainouz lança um filme inteiramente cearense com atriz, ator, roteirista, produção e direção de ex -alunos do Instituto Dragão do Mar (a escola) do Porto Iracema e do centro de formação do TJA.

Karim, uma mente borbulhante e apaixonada pelo Ceará, vem lutando bravamente para manter acesa a chama das políticas de formação no audiovisual que fizemos juntos.

Zema e Leite, o que a rama do Bolsonarismo tem de pior

Quando Zema apareceu em Minas, imaginei que nada pior apareceria para carregar o caixão de Bolsonaro.

Eu estava errado.

A figura mais oportunista e sem escrúpulos, que os simpatizantes do bolsonarismo (que chegam a ser uma cópia pior do que o bolsonarismo raiz) produziram é esse governador Eduardo Leite.

Depois de desmontar as políticas ambientais do estado a mando dos senhores de fazendas, ele aparece alegre e saltitante como chefe de recuperação do RGS.

Em seguida, manda o agradecimento vergonhoso, em inglês, a Elon Musk por uma mísera doação oportunista.

Finalmente manda essa de dizer que as doações feitas pelos brasileiros iriam atrapalhar o comércio do Rio Grande.

Se Lula dissesse algo parecido com o que disse, o mundo desabaria na cabeça dele.

Jean Wyllys tinha razão. Além de tudo de ruim que fala e faz, ele se esconde atrás da bandeira LGBT, que, por sinal, ele nunca defendeu.

É um playboy de extrema-direita deslumbrado e alienado.

E pensar que os senhores dos campos do sul já apoiaram um dia Jango e Brizola contra a ditadura.

Foto do Paulo Linhares

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