
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Quem se der ao trabalho de folhear minhas colunas vai perceber que desde o começo do governo Elmano falo dos abacaxis e heranças indigestas.
Ficou até monótono e mudei o ritmo. De rock a samba canção, eu repeti que não dariam certo as políticas de segurança, planejamento econômico, leia-se aqui equilíbrio do Estado e economia cearense como um todo.
Antes, me deixem dizer algo conceitual que me parece importante para entender o tempo em política. A recuperação dos acontecimentos, pelo valor que estimamos no passado e chegaram a ter no futuro, é sempre uma prova dos nove, mas não é tudo.
As conjecturas políticas, uma hipótese de desenrolar dos fatos, no tempo imprevisível para quem está vivendo, podem não se realizar, mas podem acertar o rumo. Lembro aqui de uma frase de Paul Valéry que gosto muito e resume o que penso: é preciso narrar a história de uma ideia e não de uma paixão.
Elmano mudou seu secretariado na segunda, 27 de maio, um ano, quatro meses e 27 dias depois da sua ascensão ao cargo de Governador.
E mudou em três áreas estratégicas, embora muita gente não tenha entendido muito bem: 1.Segurança Pública 2. Planejamento 3.Obras e infra-estrutura.
Vou dizer, pensando aqui com meus cinco botões, porque mudou, quem assumiu e o que devemos esperar.
Vamos começar pelo óbvio: a queda do rapaz da banalidade do mal, Samuel Elanio, o então secretário de segurança pública do Ceará.
Trezentos crimes violentos, letais e intencionais por mês no Ceará e o vice-campeonato nacional com a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes lhe pareceu "razoável".
Elmano parece que não concordou.
Chamou Roberto Sá.
Desde a dobradinha Tasso/FHC se chama o governo federal e a PF indica o nome. As secretarias de segurança são hoje uma grande reserva de mercado da PF.
Roberto Sá, o indicado da PF, é mais do mesmo. Tem experiência no Rio, já viu o que existe de pior no Brasil. Passou pelo Espírito Santo. Não deixou nenhuma experiência memorável.
Numa escala de avaliação básica de gestão na Segurança Pública, de 1 a 4, Roberto Sá pode ir bem até a pontuação 2 dos meus indicadores.
Sendo 1, ruim e sem perspectiva de ação do Estado nas áreas críticas; 2. Identificação dessas áreas, enfrentamento de líderes e facções, prisão e retirada para presídios de segurança máxima; 3. Fazer o que diz o item 2 e mais treinamento policial com tecnologia e inteligência; 4. Investir pesado em infraestrutura pública, escola, habitação, hospitais, centros de cultura, esporte, áreas de convivência social, etc. O que se fez em Medellin.
Aqui,vamos melhorar um pouco. Nada de extraordinário. Mesmo porque o enfrentamento das facções é um problema federal e o Governo Lula se nega a enfrentá-lo. Prefere o desgaste de ficar longe do problema a chamar para sua responsabilidade e não saber resolvê-lo.
A segunda mudança foi na Secretaria de Planejamento. Elmano colocou um quadro que junta boa teoria e experiência. Alexandre Cialdini além de ser um dos seus, pensa bem e conhece a máquina pública.
Seus desafios são imensos: o estado do Ceará está literalmente quebrado. Tem a segunda dívida pública projetada do ano (FGV). Cialdini tem que fazer o dever de casa, equilibrar as contas do governo. Depois, tem que criar um plano estratégico para a economia cearense. Ele citou o Ceará 2050. É um bom começo. Um diagnóstico. Falta entender melhor as possibilidades dessa tal energia verde, as eólicas, em crise, começaram a demitir os poucos trabalhadores que tinham, entender o novo emprego de serviço no turismo, entretenimento, lazer, cultura, gastronomia e as saídas para os caminhos do que chamamos hoje de projeto neo-industrial inovação, compromisso ambiental e integração com cadeias produtivas internacionais.
Coloque neste caldo toda a metafísica política necessária para fazer qualquer coisa que mexe com tanto dinheiro e interesses e você terá o tamanho do desafio de Alexandre, o grande.
E a terceira mudança, na infraestrutura, foi um chega pra lá em Cid. O PSB não tem dinheiro federal para alimentar seus prefeitos e a retirada da Seinfra lhe deixa de pires na mão.
Em síntese: Elmano botou gente da sua confiança e seriedade inegável para tocar as obras. Pronto.
Se tivesse que resumir o mais importante passo dessa reforma, eu diria que Elmano começou a fazer o Governo com sua gente, sua cara e se afastou das indicações do velho tabuleiro político.
É uma espécie de "Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, invertido, antes ele tinha um governo, um rosto, um retrato feito por um amigo, cheio de imperfeições. Agora, começa a fazer o seu Governo, com a sua cara.
É um bom começo.
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