
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
No Ceará
O Governador Elmano de Freitas falou bastante semana passada. Deu longas e boas entrevistas ao Globo, Folha de São Paulo e ao O POVO.
A Folha perguntou a Elmano: "Qual marca o senhor quer imprimir para as pessoas associarem no futuro ao seu governo?"
Elmano respondeu: "Abrir caminho no estado do Ceará do projeto de energia renovável de hidrogênio verde, que pode mudar historicamente a economia do Ceará".
A ideia de Elmano traz uma notícia boa e uma ruim para seu marqueteiro. A boa é que o governador já se decidiu qual vai ser sua marca.
Não é uma decisão fácil. Normalmente os governadores tateiam até serem empurrados para tomar essa decisão.
Cid tentou até o fim dos seus dois mandatos ser lembrado como o governador das grandes obras. Vai ser lembrado pelo que fez da educação. E a história talvez lhe reconheça como o maior de todos por ter conseguido essa marca.
Tasso foi o governador que reformou o Estado e deu o rumo do equilíbrio financeiro.Camilo estava na reta final do seu segundo mandato sem marca até que a Covid pegou a todos desprevenidos. Ele vai ser lembrado como o governador que enfrentou a Covid.
A notícia ruim para o marqueteiro de Elmano é que essa marca não é popular. Não tem aderência a um líder de esquerda preocupado com a desigualdade econômica.
O problema é que essas fontes energéticas ainda são caras e geram poucos empregos.
No momento, as indústrias eólicas vivem seu pior momento em décadas no País. A brasileira Aeris Energy demitiu nas últimas semanas mais de 1500 funcionários que trabalhavam no Pecém.
Se levarmos em conta que os empregos oferecidos nas eólicas são de baixos salários, digamos que Elmano escolheu uma marca difícil com o timing errado.
Será que o seu marqueteiro tem cabelos? Se tem, vai começar a perdê-los.
No Brasil
A elite gaúcha já foi conhecida pela sua coragem em defender o Brasil, afinal o Rio Grande do Sul é uma terra de fronteira, e a democracia do país.
Quem não se lembra da saga dos grandes estancieiros dos livros de Erico Verissimo? E a defesa do governo Brizola, no Palácio Piratininga, quando a ditadura militar derrubou Jango e tomou o poder? Hoje a elite política e economia gaúcha é conhecida pela defesa do trabalho escravo e o negacionismo climático que deu no que deu.
Se você, leitor, pensa que eles estão arrependidos e envergonhados, veja o que disse o um dos seus líderes:
O empresário Gedeão Silveira Pereira, segundo vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), fez um pronunciamento nesta segunda-feira (10), durante a Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, em que negou a existência de trabalho escravo no Rio Grande do Sul e criticou o programa Bolsa Família.
Ele afirmou que é possível que exista trabalho escravo na mineração da Amazônia, "que não tem comunicação, não tem Starlink [braço de satélites da SpaceX, de Elon Musk]", mas não em uma "das regiões mais ricas do Brasil, contra as nossas vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora".
"Imaginem os senhores cumprir uma burocracia intensa para alguém que tem que colher uva em três dias, dois dias ou quatro dias. Se ele vai assinar a carteira de trabalho, se ele vai fazer toda a... Ele não consegue colher a uva, e quem é que perde? Vai perder o Brasil. E é trabalho escravo isso? Não, não é. Tanto é que eles recebem um salário até superior a qualquer salário mínimo vigente no País", disse Pereira, que também é presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Sobre o Bolsa Família, ele disse que parece que neste momento "atrapalha a nossa relação [entre empregadores e empregados], porque nos falta já mão de obra no Brasil". Fala do líder gaúcho lembra os anti abolicionistas do século XIX que diziam que se acabar o trabalho escravo, com a abolição, o Brasil iria quebrar.
E ninguém no R G do Sul criticou a fala escravista de Gedeão. Nem um intelectual, artista, político ou empresário disse palavra.
E tem mais: são críticos ferozes do estado, qualquer estado. E agora quem eles querem que subsidie os seus negócios? O velho estado que eles odeiam.
Já pensaram se em vez do R G do Sul, Lula estivesse dando essa dinheirama toda para um estado do Nordeste vítima de uma seca? O Ceará, por exemplo. A mídia e o Sul/Sudeste estariam caindo de pau com toda fúria. Como é estado do Sul, eles acham que é pouco.
Nos Estados Unidos
Quem pensava que após Donald Trump ser condenado por 34 crimes graves a plutocracia americana recuaria no seu apoio, não perdeu por esperar.
A Heritage Foundation — um think tank de direita que produziu a agenda Project 2025, um plano de políticas caso Trump vença — botou uma bandeira americana de cabeça para baixo, que se tornou um emblema de apoio ao Maga (Make America Great Again ou "Faça a Amecica grande novamente", principal slogan de Trump) em geral e à negação das eleições em particular.
Mesmo os moderninhos grandes do Vale do Silício e os chacais do Wall Street estão unidos com Trump.
Paul Krugman, o sempre lúcido Nobel da economia americano, explica que a Heritage se apresenta como defensora da liberdade, mas sua verdadeira missão sempre foi produzir argumentos — frequentemente baseados em pesquisas duvidosas — a favor de baixos impostos para pessoas ricas.
Ou seja, não importa que a economia americana esteja bem como nunca, os preços das ações — que Trump previu que cairiam se ele perdesse em 2020 — dispararam. E que as altas taxas de juros, que são um fardo para americanos médios, são, ao mesmo tempo, um benefício líquido para pessoas ricas com dinheiro para investir.
Quem pensa que isso está longe da nossa realidade, veja o movimento do ex-desastrado chefão da nossa economia brasileira, Paulo Guedes. Sabe aquele, o pior aluno que a Universidade de Chicago já teve?
Pois essa semana ele juntou 50 líderes do setor empresarial e produtivo do País para o lançamento da Fundação Internacional para a Liberdade, o braço brasileiro da Fundación Internacional para la Libertad, cujo fundador e presidente é o prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa.
"A fundação tem como objetivo ampliar esforços para promover e proteger os princípios de liberdade em escala global", disse Guedes.
Na Europa
Não tenho mais muito espaço para explicar a vitória da extrema-direita na Europa. Só dois detalhes: enquanto os partidos liberais da direita clássica perdiam recursos e energia para apoiar a pândega Ucrânia e fechavam os olhos fazendo de conta que não era com eles os massacres de Israel, a extrema-direita falava com as periferias e lhe oferecia o discurso anti sistema. Lula, tão criticado ultimamente, estava certo nos dois casos e combateu o bom combate. E, ao contrário da maioria dos analistas franceses, acho que a dissolução da Assembléia Nacional por Macron foi um roque (jogada de xadrez em que o rei muda abruptamente de lugar) e vai acabar, sim, enfraquecendo Marine Le Pen.
Quem viver, verá.
E atentem para o seguinte: a maior parte do desgaste de Macron é por ter tirado três anos da aposentadoria dos franceses (caiu de 65 para 62), coisa que FHC vez sem perder um ponto nas pesquisas. Ou seja, além de perfume, vinho, comer bem, eles gostam do estado, sim. O que podemos chamar hoje de estado do mal-estar social.
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