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Quem vai ser o herdeiro do Lulopetismo?
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Quem vai ser o herdeiro do Lulopetismo?

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Fernando Haddad (PT) é atual ministro da Fazenda (Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda/Divulgação)
Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda/Divulgação Fernando Haddad (PT) é atual ministro da Fazenda

"Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu" (Goethe, citado por Freud, em "Totem e tabu", de 1913), sintetiza o recebimento de um legado. Trata-se, aqui, de uma herança: de pai para filho, o quese transmite. O contexto da frase é sobre um pai assassinado. O que é, para os Lacanianos, a própria instauração da cultura. Um legado que envolve a assimilação das qualidades do pai através de sua superação/apropriação.

Na cabeça do Lulopetismo, hoje, há uma pergunta que paira: quem vai ser o herdeiro?

Ciro quis matar o pai e foi retirado da partilha. Isso aconteceu quando Lula estava preso e escolheu Haddad para ser seu candidato. A ferida narcísica cirista nunca foi superada.

No espectro de líderes à esquerda, quatro candidatos surgem à frente na disputa.

Haddad. O paulista Uspiano tem alguma vantagem. A economia — para desgosto da Faria Lima e da grande mídia — está bombando. Crescimento acima das expectativas, desemprego baixíssimo, inflação surpreendentemente baixa e quase lá no grau de investimento.

Problemas. A periferia jovem está indo rapidamente para a direita. Os evangélicos dominam o País. Os ubers e ifoods querem menos estado e mais mobilidade social. E a esquerda não tem proposta para combater as facções. Esse caldo todo pede um líder carismático para enfrentar os Pablos/Andres da vida, coisa que Haddad não tem para oferecer.

Camilo. Lembra Juscelino Kubitschek. Tem sorte pra dedéu. Intuição política (vejam como ele se agarrou nas pautas populares no MEC), embora tenha ainda baixa consistência e experiência nacional. Lula parece sentir o cheiro de que ele pode vir a ser uma grande liderança de massa.

Dino. Do supremo para a presidência? Por que não? É esperto. Tem carisma, embora a conversa bacharelesca cheire mal para o povão. Mas Lula não confia nem um pouco nele. Já romperam em priscas eras. E vacilou demais na pauta de segurança quando estava na Justiça.

Rui Costa. Dizem na Bahia que baiano burro já nasce morto. Rui está vivo. Mas é burro, politicamente, claro. Atropela demais. Lembra o estilo Dilma. Lula já errou uma vez na escolha do estilo político do herdeiro. Não vai errar de novo.

 

Você tem fome de quê?

Como diz a poesia dos Titãs "a gente não quer só comida/a gente quer comida, diversão e arte".

Duas dicas gastronômicas de comida e algo mais.

Casabaobarte. Rua Pereira Valente,1569).

O nome é estranho. Não sei se remete ao candomblé, ao Senegal ou ao Saint Exupéry. O restaurante fica numa ruazinha bem calma da Varjota. É todo decorado com móveis, quadros e objetos trazidos pela mãe da proprietária de suas viagens. Uma misturada danada que deu certo. É agradável e a cozinha tem sabor, embora insista nesse papo furado de cozinha afetiva (quando vejo esta frase, fico logo de orelha em pé). Experimentei um risoto de funghi e estava certeiro. Também provei um filé de peixe com batata laranja finalizado com manteiga de ervas. Tava bem ok. A carta foge da banalidade de todos os restaurantes da cidade e tem uns vinhos de Santa Catarina muito bons.

Terroir Café Bistrô.(Rua Tibúrcio Cavalcante,2492). É uma casa bem decorada, também. Tem até uma cozinha no meio do salão, meio sem função, só decor, como dizem os franceses. Comi apenas uma salada caprese que estava muito boa. Bem temperada, folhas frescas. Insisto na informação, pois é difícil achar uma salada que preste nessa cidade. A carta de vinho é pequena, mas tem um portuguesinho barato e muito bom. Mar Salgado, experimentem.

Veveu veio. E pediu direito de resposta

Veveu, velho amigo, no tempo do genial Augusto Pontes, marcava jantares e não aparecia. Augusto P. inventou um bordão que repetia a noite inteira. Veveu não veio. Quando Veveu vinha, ele dizia: Veveu veio, sem parar.

Aliás, Veveu foi quem cuidou, com muito carinho, de Pontes nos seus momentos finais.

Pois bem, Veveu foi quem me contou a história do convite e do desconvite da sua mulher, Izolda, para ser governadora. Ele pediu para retificar que quem ligou desconvidando foi o Ciro.

Ah, bom.

E disse mais. Não era o telefone da casa, era seu celular.

Ah, bom. De novo.

Detalhe, naqueles tempos idos, o FGs estavam unidos.

Retorno à origem

Estou lendo um livro de Didier Eribon, lançado em 2020, e recomendo a quem não leu, à época, como eu.

Didier Eribon é filósofo e sociólogo. Autor de uma badalada biografia de Michel Foucault, dos seus inúmeros livros destacam-se "Réflexions sur la question gay" (1999) e "Une morale du minoritaire" (2001).

"Retorno a Reims" (Editora Ayné) é de uma sinceridade brutal. Eribon volta sua casa com seu pai doente e acompanha seu Parkinson e a morte. Ele era então um intelectual parisiense de sucesso. No livro, ele conta que seu pai era um trabalhador humilde e conservador.

Ele escondeu sua origem social. Escondeu sotaque. Escondeu a estética de origem. Escondeu sua classe social familiar o quanto pode.

"Minha vida não é somente assombrada pelo futuro, também o é pelos fantasmas do meu próprio passado, que surgiram logo depois da morte daquele que personificava tudo aquilo que fugi, tudo aquilo que quis romper, e que, certamente, tinha constituído para mim uma espécie de modelo social negativo, um contrapeso no trabalho que eu havia realizado para criar a mim mesmo. "

Com a adesão das classes populares aos movimentos conservadores de extrema-direita, o livro é uma reflexão mais atual do que nunca.

Ele une precisão conceitual e beleza na escritura, algo raro.

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