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Trump e sua trupe dos psico-mísseis
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Trump e sua trupe dos psico-mísseis

A América, em vez de uma nação, vai se transformar numa empresa na luta pela barbárie
Donald Trump em comício nos EUA (Foto: Pool / GETTY IMAGES NORTH AMERICA /Getty Images via AFP)
Foto: Pool / GETTY IMAGES NORTH AMERICA /Getty Images via AFP Donald Trump em comício nos EUA

Trump já desenhou o retrato falado de sua trupe de pisco-mísseis. Cada uma deles, vai ser encarregado de destruir um alvo que representa um pacto civilizatório: ecologia, estado, relações internacionais, saúde pública, etc.

Freud, no seu clássico livro "O mal-estar das civilizações", explica que a civilização é fundada na base de uma renúncia à satisfação pulsional, uma constante repressão das pulsões. O desenvolvimento da civilização pode ser compreendido como um processo peculiar experimentado pela humanidade, caracterizado pelas modificações que ocasiona nas habituais disposições pulsionais dos seres humanos, resultando numa certa economia da libido, que para Freud constituiria a "tarefa econômica de nossas vidas".

Para Freud, a civilização "tem de ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa". A questão fatídica parece residir na possibilidade ou não de conciliar as reivindicações individuais de felicidade e as exigências contidas no processo de desenvolvimento em curso neste momento de crise do capitalismo.

Dentre as fontes de sofrimento que ameaçam o ser humano para Freud, três se destacam: as forças da natureza, a ameaça de deterioração e decadência de nosso próprio corpo, e o sofrimento nascido das relações entre os humanos.

A energia requerida para o trabalho da civilização é basicamente a força do Eros, portanto, vinda da sexualidade (que pode ser transfigurada em objetos de consumo). A repressão da energia pulsional agressiva, repressão necessária para que haja civilização, tende a aumentar a infelicidade através de uma intensificação do sentimento de culpa, podendo levá-lo a atingir proporções difíceis de serem toleradas pelo indivíduo.

Atualizando o pensamento do pai da psicanálise, Zygmunt Bauman escreveu um livro bem interessante: "O mal-estar da pós-modernidade ". Bauman diz que estamos cada dia mais infelizes porque não conseguimos consumir tudo que desejamos, o mundo virtual alimenta o nosso narcisismo e o desejo pulsional se torna insaciável.

O paradoxo é que na maioria das transformações da organização da vida atual, o que se vê é o crescente engrandecimento das forças de mercado que, de uma forma cada vez mais intensa, chamam para si a função de conduzir a ordem do mundo.

Ou seja: o supercapitalismo que vivemos hoje, turbinado pelas redes, cria uma insatisfação e uma tristeza geral e ele mesmo formata dispositivos de escape que aparentemente rompem com a ordem. Mas, na verdade, eles criam os moinhos de vento e servem para o ataque à ordem civilizacional, ou seja, são meros avatares para impor mais e mais mercado na nossa vida..

Neste momento, Trump já escalou sua equipe de um misto de psicopatas e mísseis teleguiados e é bom prestar atenção neles e suas tarefas de ilusão:

ERLON MUSK E VIVEK RAMASWAMY

O objetivo da dupla é desmantelar o Estado. A ideia é substituir o estado por uma empresa. "Tenho o prazer de anunciar que o grande Elon Musk, em conjunto com o patriota americano Vivek Ramaswamy, liderará o Departamento de Eficiência Governamental".

Trump falou em reestruturar agências federais. "Juntos, esses dois americanos maravilhosos abrirão caminho para que minha administração desmantele a burocracia governamental, corte regulamentações excessivas, corte gastos desnecessários e reestruture as agências federais - essenciais para o movimento "Salve a América".

É óbvio que a transformação da América em uma grande empresa era o sonho secreto de todo empresário. Quanto vai durar? Até a primeira grande tragédia na saúde, ecológica, ou tudo ao mesmo tempo.

SUSIE WILES

Susie Wiles foi o primeiro nome anunciado por Trump para compor seu governo. Wiles é considerada uma das principais arquitetas da sua campanha vitoriosa.

A expectativa é de que ela seja uma das peças-chave para colocar em prática o plano de deportação em massa de imigrantes ilegais no país.

O que significa campos de concentração,deportação em massa e humilhação aos povos que sonharam com a América.

STEPHEN MILLER

Stephen Miller, ex-assessor de Donald Trump, é indicado como vice-chefe de governo para política no novo governo Trump 

Miller é conselheiro de imigração e ex-assessor de Trump. Ele foi um dos principais conselheiros do republicano em seu primeiro mandato.

Ele participou da decisão de separar milhares de famílias de imigrantes ilegais em 2018. À época, mais de dois mil menores foram separados de seus pais e familiares.

ALINNA HABBA

Alina Habba, sua advogada pessoal , é o único nome da lista ainda não confirmado.

Ela seria indicada para o cargo de porta-voz da Casa Branca, apontam analistas políticos de veículos como Fox News e Newsweek.

Os internautas brasileiros já comemoraram a escolha graças aos potenciais trocadilhos que o nome da advogada de Trump renderia em quatro anos de governo. Habba defendeu Trump nos tribunais em diversos casos desde 2021 e foi repreendida por juízes por "desrespeitar regras básicas de conduta na corte".

TOM HOMAN

Chefe da agência responsável pelo controle de fronteiras e imigração (ICE). Tom Homan, ex-diretor interino do Serviço de Imigração e Alfândega dos

Estados Unidos. Conhecido como o "czar das fronteiras", Trump declarou que Homan será responsável por "todas as deportações de estrangeiros ilegais para seus países de origem".

Durante sua campanha, Trump prometeu uma grande operação para deportar imigrantes ilegais em seu primeiro dia de mandato. "Tenho uma mensagem para os milhões de imigrantes ilegais que Joe Biden deixou entrar em nosso país: é melhor vocês começarem a fazer as malas agora", declarou Homan durante a Convenção Nacional Republicana em julho.

MICHAEL WALTZ

Michael Waltz, membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, foi escolhido para cargo de conselheiro de Segurança Nacional do governo Trump.

Congressista da Flórida e veterano de guerra, ele terá um papel fundamental nas decisões de política externa e segurança nacional.

A ideia é acabar a guerra da Ucrânia com a rendição a Putin(amigo querido de Trump) e abrir uma guerra comercial e diplomática com a China.Mike Waltz já pediu um boicote às Olimpíadas de Inverno de 2022 em Pequim por considerar o país "envolvido na origem da Covid-19".

LEE ZELDIN

Ex-congressista republicado, Lee Zeldin será o chefe da EPA (Agência de Proteção Ambiental). No anúncio em sua rede social, Truth Social, Trump disse que "[Lee Zeldin] vai tomar decisões de desregulação rápidas e justas, implementadas de forma a potencializar as empresas americanas, ao mesmo tempo em que mantém os mais altos padrões ambientais, incluindo a água e ar mais limpos do planeta".

Na prática, Zeldin tomará decisões para reverter as políticas de proteção ambiental promulgadas pelo governo de Joe Biden. Trump o definiu como um grande defensor das políticas "America First" (América em Primeiro Lugar).

E eu acrescentaria: e a natureza em último.

MARCO RUBIO

Marco Rubio, senador pela Flórida, será o primeiro latino a ocupar o cargo de secretário de Estado dos Estados Unidos. Cubano emigrado,Rubio é defensor de Israel, é favorável ao fim da guerra na Ucrânia e defende exercer máxima pressão sobre a China. Na América Latina, terá como alvo o governo cubano.Crítico de Lula, sua tarefa é acabar com a liderança de Lula e levar Milei a defender o pouco que restar da região.

KRISTI NOEM

Noem será secretária de Segurança Interna. Noem chegou a ser cotada para ser a vice-presidente na chapa de Trump, o que não aconteceu. Em abril, ela escreveu em um livro de memórias que matou a tiros um cachorro na fazenda de sua família. Ela o classificou como "intreinável", "perigosa para qualquer pessoa com quem ela entrasse em contato" e "menos que inútil" como cão de caça. Essa fala causou reações negativas à população.

Como governadora, ela ganhou destaque durante a pandemia, quando se recusou a impor a obrigatoriedade de máscaras no estado da Dakota do Sul.

JOHN RATCLIFFE I

John Ratcliffe, que foi diretor de Inteligência Nacional durante o primeiro mandato de Trump, será o próximo diretor da CIA. O republicano falou em "paz através da força". "

PETE HEGSE

Trump em um comunicado disse: "Com Pete no comando, os inimigos dos Estados Unidos estão avisados - nossas Forças Armadas serão grandes novamente, e os Estados Unidos nunca recuarão", afirmou..

Peter foi o principal comentarista de TV a apoiar Trump. A Fox News foi um dos braços da campanha de Trump na eleição.

É como se Alexandre Garcia fosse indicado Ministro da Defesa, o comandante chefe do maior exército do mundo.. Nem Bolsonaro foi tão longe na barbárie.

ELISE STEFANIK

A parlamentar republicana Elise Stefanik foi escolhida por Trump para ser a embaixadora dos EUA na ONU.

Stefanik vem sendo uma forte aliada de Donald Trump. Em 2019, o defendeu veementemente durante seu primeiro processo de impeachment.

Na verdade, Trump quer destruir qualquer instituição que pense em mecanismos de unilateralidade..A ideia é um nacionalismo tosco que inclui apenas alguns parceiros estratégicos como o argentino Milei.

ROBERT KENNEDY JR.

Para completar o time, um Kennedy maluco antivacina para a saúde. Ex-candidato independente à Presidência e propagador de teorias da conspiração..

"Ele é um cara talentoso e tem opiniões fortes", disse Trump, sobre o sobrinho do ex-presidente John Kennedy e filho mais velho de seu irmão Robert.

Conhecido pelas iniciais RFK, Kennedy Jr. aproveitou o aval do candidato republicano e anunciou, pelo X, que no primeiro dia no governo proibiria o flúor na água potável, sob alegação de que é um resíduo industrial que provoca câncer, entre outras doenças.

Kennedy Jr. tornou-se conhecido por divulgar estudos que vincularam a vacinação de crianças ao autismo, amplamente rejeitados e desmentidos por organizações científicas.

O clã Kennedy o trata como um maluco político e rejeitou publicamente sua candidatura, mas Trump reafirmou que confia em Kennedy Jr. e anunciou a intenção de tê-lo na área da saúde.

 

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