Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
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A dialética da transformação de Fortaleza no novo Rio de Janeiro com seu território sendo disputado por facções e milicianos ganhou mais um momento estratégico com a morte de um subtenente da PM, no dia 15 de janeiro, no Pirambu. A história da ocupação de Fortaleza pelas facções e agora pelas milícias tem algumas datas marcantes.
"O primeiro momento foi quando as gangues precederam as facções nos anos 1980. As gangues eram grupos que, a partir do final da década de 1990, vão incorporar algumas dinâmicas relacionadas aos mercados ilegais de drogas, dos enfrentamentos armados.
Eram muito vinculadas aos territórios". A explicação é do meu colega de departamento na Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio, que lidera o Laboratório de Estudos da Violência (LEV).
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A presença das facções criminosas no Ceará começou a ser registrada pelo O POVO em 16 de outubro de 1993, quando a Polícia Militar "estourou" o que os agentes definiram como o primeiro "reduto" do Comando Vermelho no Estado. Localizado no bairro Álvaro Weyne, o imóvel era utilizado para guardar documentos roubados, papéis usados para embalar drogas e vestimentas usadas em assaltos.
Já o PCC começou a ganhar força no Ceará nos anos 2000, repetindo o discurso da cúpula paulista de combater a "opressão no sistema prisional".
À época, o grupo ganhava força nos presídios, mas a população só conheceu a amplitude do poder violento do PCC a partir de 12 de maio de 2006, quando a maior série de ataques organizados já registrados no País começou a ser colocada em prática.
Os criminosos reagiram à decisão do Governo de São Paulo de isolar os líderes da grupo no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior paulista.
A partir de 2017, quando a trégua firmada entre CV e PCC foi desfeita nacionalmente, houve fortes reflexos no Ceará. Nessa época, o grupo Guardiões do Estado (GDE) também passava a aparecer como dissidência dos paulistas no Ceará, com regras menos rígidas para a entrada de novos integrantes e com ações mais violentas.
A morte do subtenente da Polícia Militar do Ceará (PMCE) está sendo atribuída a uma guerra entre Comando Vermelho (CV) e policiais milicianos no Grande Pirambu. O cenário foi exposto em audiência de custódia de um dos suspeitos de envolvimento na ação, preso horas após o crime. Ele teria conduzido o veículo utilizado no assassinato do agente de segurança. Conforme a decisão do auto de prisão em flagrante do acusado, assinado pela juíza de Direito Adriana da Cruz Dantas, o autuado e seus comparsas, supostamente integrantes do CV, planejaram a morte do policial porque ele teria "retirado" a tropa em um "Dia de Guerra" entre membros da facção e "milicianos" vinculados ao grupo de um policial militar, identificado como Igor Jeferson Silva de Sousa, conhecido como "Igor Negão". O subtenente foi alvejado por diversos disparos de arma de fogo, que atingiram a cabeça, costas e nádegas, sendo, ainda, cravada uma faca na nuca da vítima.
Em entrevista ao O POVO, o doutor em Sociologia, jornalista e colunista Ricardo Moura explicou que o cenário em que o crime contra o agente policial aconteceu é preocupante: "a gente percebe um elemento novo, que são esses policiais que são chamados de milicianos. Além do trabalho de repressão ao crime organizado, você vai ter também que fazer um trabalho de repressão a esses policiais que agem em grupo e que agora estão em confronto aberto com faccionados".
Repito: 15 de janeiro de 2025 marca o recrudescimento da guerra nos territórios de Fortaleza entre facções e milícias.
Não, não estou defendendo meramente ações punitivas que só servem para alimentar a guerra. Nem a contratação de novos policiais como fazem sempre nos governos. Estou falando de medidas sérias positivas de criação de alternativas para nossos jovens sem saída entre as facções e as milícias.
Nem mesmo estou jogando lenha na fogueira deste debate superficial entre governo e oposição. A tarefa é federal. Fortaleza já é obviamente um lugar de folga das grandes lideranças nacionais do crime. Tem um porto aberto para o tráfico internacional. A tarefa também é certamente estadual. É preciso um projeto mais amplo para nossa periferia. O que estava sendo feito com seriedade pela ex-governadora Izolda Cela, resultou numa injeção de recursos pelo Banco Mundial e foi transformado em pó no "me dá cá, toma lá" da miudeza política. A tarefa é ainda municipal. A prefeitura tem sim possibilidade de criar políticas públicas mais arrojadas para esses territórios como Pirambu que serão palcos de tragédias anunciadas.
Sei que a classe média alta de Fortaleza, aquela que decide tudo, não se preocupa muito com isso porque os milhares de mortos (Fortaleza é a segunda cidade do País) estão na periferia da Cidade. Mas, como no Rio de Janeiro, uma hora essa maré chega. E como um tsunami vai atingir a Fortaleza blindada dos edifícios de 50 andares.
Quem viver, verá.
Show inesquecível na Praia do Futuro de Xande de Pilares
Há muito tempo não assistia um show tão belo quanto o de Xande de Pilares na barraca Santa Praia. Uma noite que ameaçava cair uma tempestade, acabou sendo um cenário perfeito. A voz de Xande, os arranjos de samba para releituras de Caetano, tudo bem formatado, produziram um show inesquecível. O engraçado é que parte do público que foi para ouvir pagode pediu e levou. No fim, Xande fez um show à parte cantando seus sucessos da carreira solo e do Grupo Revelação.
Cirandinha, cirandinha, vamos todos cirandar
Chegou finalmente o Ciranda. Quando o chef Marco Gil me disse que estava criando um novo restaurante e que ele estava pensando em chamá-lo de Ciranda eu lhe disse que gostava muito. O Cirandinha foi um restaurante na Praia de Iracema que também tinha um braseiro e deixou marcas afetivas em muita gente. Quem não se lembra daquele mar batendo nas pedras?
Pois o Ciranda chegou. Fica na Rua Frederico Borges, 372, vizinho ao Ordones da Varjota.
Tem uma galeria de arte cearense nas paredes. E um projeto que transformou um corredor que parecia terrível num lugar bem agradável.
Um restaurante tem que ter charme. Você senta na mesa e diz: gosto de ficar aqui. E as entradas, que loucura. Pra começar peça um patê de sardinha com pão de fermentação natural tostado com azeite. Ou um atum fresco "alimado". Uma marinada cítrica com alcaparras, azeitonas verdes e licor de amêndoas amargas. Um barato melhor que qualquer baseado.
Da brasa eu provei um fígado bovino laqueado. Um espetinho de fígado com molho tarê de cajuína. Sei que fígado é ame-o ou deixe-o. Mas é difícil não amar esse aqui. E pra compartilhar um arroz de frutos do mar à portuguesa ou um arroz de pato no braseiro. Fim dos deuses.
Fiquei com um problema. O Ciranda fica a dois quarteirões da minha casa. Tenho vontade de ir todos os dias.
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