
Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
O jovem amigo (poeta, pesquisador, editor etc.) Léo Prudêncio, dia desses, me enviou pelo whatsapp este pequeno texto; li-o, achei curioso apenas, mas nem liguei... Precisou ele me "lembrar" que o tal texto era meu e que ele o havia encontrado durante uma pesquisa (nos arquivos do jornal O Povo) sobre o saudoso poeta José Alcides Pinto.
De início duvidei, fui lá no celular e li novamente, desta vez já me pareceu mais familiar. Então passei dias a matutar sobre a motivação de ter escrito esse quase insignificante conto (se muito, no máximo, uma anedota), quando me veio à memória um desafio, não sei se do editor à época, de que vários jovens escritores desenvolvessem, em prosa, algumas notícias do próprio jornal.
Porém não fiquei convencido de que a motivação realmente tenha sido esta, e continuo sem segurança se fui eu mesmo o autor da esdrúxula história.
Transcrevo o miniconto como apareceu, mais de duas décadas antes:
"(barulho, gritos)
- Mas, meu senhor, ele não tinha o direito...
- Engano seu, senhora, ele era o legítimo proprietário da cartela.
- O senhor falou "era", quer dizer que ele já retirou todo o dinheiro?
- Não, não!...o dinheiro continua todo no banco, e ninguém mais poderá retirá-lo... nem ele!
-... Aquele irresponsável saiu para comprar o leite das crianças... desviou e foi pra loteria.
- Mas, caríssima senhora, acontece que ele ganhou sozinho o prêmio; se ele não tivesse desviado o caminho não teria ganhado.
- Ganhou mas não levou, como o senhor disse, e ainda desapareceu faz um mês.
- Ele comentou coisas estranhas, humilhações, e que a senhora sempre o tratava por vagabundo... falou sobre um vizinho que circulava livre pela casa.
- O vizinho é este aqui, não tem nada demais... E por que ele não retirou o dinheiro?
- Ninguém aqui entendeu, e quase chorei quando vi o bilhete queimando.
- Quer dizer que ele... o senhor está brincando, não é?
- E ele parecia bem seguro do que estava fazendo.
-Como...?
(silêncio, soluços)"
O máximo que consegui encontrar parecido com a inspiração para tão insólita anedota foi este parágrafo do texto
"Tese sobre o conto", do argentino Ricardo Piglia, no livro (hoje esgotado) "Formas breves", que foi meu livro de cabeceira por muitos anos:
"Num de seus cadernos de notas, Tchekhov registra esta anedota: 'Um homem em Montecarlo vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, suicida-se'"
Porém a resposta para tão inútil questão talvez (vi depois numa terceira leitura do pequeno texto) tenha sido mesmo uma aleatória manchete de jornal da época, como pensei inicialmente:
"Apostador leva quina sozinho"
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