Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Frente à mobilização e à força das mulheres, os valentes estão batendo em retirada para as suas fossas medievais
Foto: FERNANDA BARROS
FORTALEZA-CE, BRASIL, 15-06-2024: Protesto contra a PL do aborto, na Praça do Ferreira. (Foto: Fernanda Barros/O Povo)
Caso fosse um político razoável, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), teria barrado o projeto de lei 1904/24. Mas, de olho em sua sucessão à presidência da Casa, tomou a pior decisão. Pôs o PL do Estupro — como ficou conhecida a proposição — para votação em regime de urgência.
O projeto de lei equipara o aborto a crime de homicídio, quando praticado após 22 semanas de gestação, mesmo nos casos permitidos em lei (estupro, risco à vida da grávida e anencefalia do feto). Se aprovada, a pena para a mulher será de 20 anos de prisão, o dobro do prazo a que poderá ser condenado o estuprador.
Além do hipócrita apelo ao “direito à vida”, partindo de armamentistas, os defensores do projeto dizem que “o Brasil é contra o aborto”. Mas o que se discute agora não é a legalização do aborto — um debate necessário — mas sim um PL que pretende apagar o artigo 128 do decreto-lei 2848, vigente desde 1940.
De qualquer modo, verifiquei pesquisas sobre o tema. Encontrei uma de setembro de 2022, com a seguinte pergunta: "Você é contra o a favor do aborto" (Ipec): 70% declararam-se contra.
Outra de agosto de 2023 (Ipsos) perguntou se o aborto deveria ser "legal em todos os casos"; "legal na maioria dos casos ou "ilegal na maioria dos casos"; "ilegal em todos os casos”.
O resultado: 39% (legal em todos ou na maioria dos casos) e 43% (Ilegal na maioria ou em todos os casos). Uma divisão, considerando-se a margem de erro.
A mais recente (fevereiro 2024), do PoderData, fez a seguinte pergunta: “Você é contra ou a favor da liberação do aborto no Brasil?”: 62% foram contrários e 24% favoráveis.
Salta aos olhos que a forma da pergunta influencia na resposta.
A mais direta: “Você é contra ou a favor do aborto” tende a ter mais respostas contrárias. A pessoa pode ser contra o aborto, mas julgar justa sua descriminalização. A pergunta que contém o termo “legalidade/ilegalidade” tende a respostas mais favoráveis.
Quanto ao projeto de lei 1904/24, os brasileiros vêm se manifestando na enquete da Câmara dos Deputados. Mais de um milhão de pessoas já votaram: 88% são contra o PL do Estupro. Frente à mobilização e à força das mulheres, os valentes estão batendo em retirada para as suas fossas medievais.
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