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No caminho da diplomacia, Nicarágua e Venezuela
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

No caminho da diplomacia, Nicarágua e Venezuela

A frase de Lula "quando um não quer, dois não brigam", pode ser adaptada para "quando um não quer, dois não negociam"
Daniel Ortega, presidente da Nicarágua (Foto: Fernandez Viloria/REUTERS)
Foto: Fernandez Viloria/REUTERS Daniel Ortega, presidente da Nicarágua

Em resposta à expulsão do embaixador do Brasil na Nicarágua, Breno de Souza da Costa, o Brasil usou o “princípio da reciprocidade” e mandou para casa a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matu.

O que provocou a expulsão de Breno da Nicarágua foi uma atitude típica de ditadores: o embaixador faltou a uma celebração dos 45 anos da Revolução Sandinista, e Ortega não gostou da desfeita. O gesto representa rompimento de relações diplomáticas.

Relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que os crimes mais hediondos são cometidos na Nicarágua. Um dos relatores do documento assinalou que “violações estão sendo cometidas de forma sistemática e configuram crimes contra a humanidade, de assassinato, encarceramento, tortura, violência sexual, deportação e perseguição política”. Um dos segmentos que sofre intensa perseguição do governo é a Igreja Católica.

Antigos aliados, desde há algum tempo a relação entre Lula e Ortega está esfriando. A repressão violenta imposta pelo líder nicaraguense tornou-se um estorvo até para setores de esquerda que continuavam (ou continuam) a apoiar a Venezuela.

Entre as causas do afastamento também está o desprezo com que Ortega tratou um pedido de Lula para libertar o bispo católico Rolando José Álvarez, intermediação pedida diretamente pelo papa Francisco. Lula queixou-se que Ortega nem ao menos aceitou receber suas ligações. (O bispo terminou por ser expulso do país.)

Nicarágua e na Venezuela são desafios para a diplomacia brasileira. O questionamento a governos autocráticos, cada vez maior, inclusive em segmentos da esquerda, põe em risco seu projeto de apresentar o Brasil como um líder na América Latina, capaz de negociar saídas políticas para as crises. A frase de Lula “quando um não quer, dois não brigam”, pode ser adaptada para “quando um não quer, dois não negociam”.

E para concluir.

Daniel Ortega foi um dos líderes da revolução que derrubou um ditador sanguinário, Anastasio Somoza. O movimento despertou o interesse do mundo e incendiou a imaginação de uma geração de jovens. Dela, pouco restou, a não ser a oposição de velhos revolucionários. E Ortega, que se tornou o espelho de Somoza, um triste final, que reverbera “A revolução dos bichos”, de George Orwell.

 

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