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Roberto Cláudio e a herança do ódio
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Roberto Cláudio e a herança do ódio

Ao apoiar o bolsonarista André Fernandes (PL), RC está incensando o algoz de seu próprio legado, atirando-se de cabeça na campanha de um candidato misógino, machista, preconceituoso — e golpista
Tipo Opinião
FORTALEZA-CE, BRASIL, 15-10-2024: Comitê do candidato André Fernandes, na Av. João Pessoa, com a presença do candidato e seus aliados, Capitão Wagner e Roberto Cláudio. (Foto: Fernanda Barros /O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA-CE, BRASIL, 15-10-2024: Comitê do candidato André Fernandes, na Av. João Pessoa, com a presença do candidato e seus aliados, Capitão Wagner e Roberto Cláudio. (Foto: Fernanda Barros /O Povo)

Seria uma surpresa a adesão de Roberto Cláudio (PDT) à candidatura da extrema direita, representada pelo bolsonarista André Fernandes (PL), mas não o foi, pelo menos para mim. Explico o porquê. Dias antes da adesão, conversando com colegas do jornal, eles haviam alertado: RC havia sido contaminado pelo ódio gerado pela divisão do grupo que, por quatro mandatos consecutivos, manteve parceria na governança do Estado.

Essa explosão, em 2022, provocou inclusive, uma divisão profunda na família Ferreira Gomes, separando irmãos. A aversão de Roberto Cláudio ao PT estaria no mesmo nível do ódio curtido por Ciro Gomes, que aparece como a principal vítima da refrega. É lamentável a guinada de RC, pois há de se reconhecer: ele é um político acima da média, com uma cultura geral pouco comum entre seus pares.

Além disso, é um dos poucos nesse meio — onde vicejam teorias conspiratórias —, a ter uma percepção equilibrada do papel da imprensa, não a considerando “inimiga”, como se faz à esquerda e à direita, a depender da manchete do dia. Porém, o rancor leva a erros monumentais, como atirar-se de cabeça na campanha de André, jogando ao lixo tudo o que construiu politicamente.

Quando prefeito, RC trouxe ao debate a urgente discussão sobre a mobilidade urbana, uma das áreas que recebeu mais atenção em seu primeiro mandato, quando iniciou a implantação de ciclofaixas e ciclovias na cidade. Hoje esses espaços somam quase 500 quilômetros, utilizados por 235 mil ciclistas. Essa, e outras políticas implementadas pelo PDT, como a ampliação da Zona Azul, não agradaram a todos, mas o administrador resolveu enfrentá-las, considerando-as de interesse público.

Agora, André exerce um populismo rasteiro, ao questionar essas medidas, que correrão risco de descontinuidade, caso chegue ao Paço Municipal. Roberto Cláudio, portanto, está incensando o algoz de seu próprio legado, atirando-se de cabeça na campanha de um candidato misógino, machista e preconceituoso.

E, caso o seu candidato vença a disputa quem pagará a conta, não será o PT, mas o povo de Fortaleza, as instituições e a democracia, que seus novos aliados tentaram golpear no dia 8 de janeiro de 2023.

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