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O filme dos "casos isolados" da Polícia Militar
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

O filme dos "casos isolados" da Polícia Militar

Incentivo dos comandantes ajuda a explicar a sucessão de abusos escabrosos acontecidos em São Paulo, praticados por subordinados que se espelham no exemplo dos chefes
Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO  (Foto: O POVO )
Foto: O POVO Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO

Uma eventualidade constitui um “caso isolado”; outro acontecimento do mesmo tipo, pode entrar na mesma categoria; se a situação se repetir, vá lá. Mas se há dezenas, centenas de “casos isolados”, essas fotografias deixam de ser imagens estanques para formar um filme revelador de um padrão de conduta.

A brutalidade das abordagens da Polícia Militar — como se vê em São Paulo, mas não só — segue essa lógica. A recorrência de “casos isolados” indica que a estrutura da PM está corrompida pela violência, dirigida, principalmente, contra pretos e pobres.

Esculachos, agressões físicas desnecessárias, assassinatos de suspeitos rendidos, que não oferecem risco aos policiais, sempre foram encarados com naturalidade. Afora as “balas perdidas”, cujos alvos preferenciais são os moradores das periferias, incluindo crianças.

Somente agora, quando a imprensa passou a dar mais atenção aos episódios, a selvageria começou a despertar indignação. Contribui para isso a profusão de imagens captadas por testemunhas em telefones celulares, que destroem a recorrente narrativa de que o agente apenas revidou a uma “injusta agressão”.

A situação piora quando esse comportamento é tolerado ou mesmo estimulado pelos chefes da PM.

Depois de uma operação que deixou dezenas de mortos no litoral paulista, o secretário da Segurança, Guilherme Derrite, classificou o resultado como “sucesso”. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ironizou as denúncias de violação dos direitos humanos e desafiou: “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tô nem aí”.

Derrite, capitão da reserva da PM, quando na ativa foi gravado dizendo ser “vergonhoso” o policial que não tinha três “ocorrências” de suspeitos mortos em tiroteio. Ele fez parte da Rota, mas foi desligado da “tropa de elite”. Quando perguntado por que, respondeu: “Porque matei muito ladrão”.

O incentivo dos comandantes ajuda a explicar a sucessão de abusos escabrosos acontecidos em São Paulo, praticados por subordinados que se espelham no exemplo dos chefes.

Agora, Tarcísio faz um hipócrita “mea culpa”, mas será difícil fazer a fera voltar às profundezas.

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