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A mentira que derrotou o governo
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

A mentira que derrotou o governo

O mata-leão foi aplicado por Níkolas Ferreira, em um vídeo com milhões de vistas, que pode ter contado com a luxuosa ajuda dos algoritmos da dupla Mark e Musk
Deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados Deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG)

Costuma-se aconselhar, quando se enfrenta a um inimigo perigoso, para escapar do vexame ou de uma surra, deve-se optar por não sair tão devagar que pareça provocação, nem tão depressa que pareça covardia, de modo a manter um mínimo de dignidade.

Pois o governo Lula saiu em desabalada carreira, humilhando-se inapelavelmente, frente ao amedrontador desafeto, que tem o singelo apelido de "Chupetinha", o Nikolas Ferreira,

(Antes que alguém se insurja: o cognome não tem conotação sexual ou homofóbica. O criador do epíteto, Felipe Neto, afirma que lhe pespegou o apodo devido ao comportamento infantil do indigitado, podem pesquisar.)

O caso, como já sabe todo o Brasil, é um vídeo do deputado federal (PL-MG), com milhões de vistas, que obrigou o governo a revogar uma instrução normativa da Receita Federal. A decisão estendia aos bancos digitais (as chamadas fintechs) e às operadoras de máquina de cartões de débito/crédito (as maquininhas), os mesmos critérios seguidos pelas instituições financeiras tradicionais nas transferências bancárias.

Sim, se até agora, você está confuso sobre o assunto, o resumo é este: os administradores das fintechs e das maquininhas seriam obrigadas a proceder como os bancos: informar à Receita transferências que superem um determinado valor. No caso R$ 5 mil por mês (pessoas físicas) e R$ 15 mil (pessoas jurídicas).

No entanto, o uso da palavrinha mágica “píx” despertou uma onda de informações falsas, afirmando que o sistema de transferência bancária mais popular entre os brasileiros passaria a cobrar taxas. A mentira era, ou deveria ser, evidente, mas espalhou-se como fogo morro acima, que ninguém segura.

Não ajudou nem mesmo a intervenção do presidente Lula, que apareceu em vídeo fazendo uma doação para a “vaquinha” de quitação do estádio do Corinthians, para mostrar que a operação continuava gratuita. O presidente perdeu R$ 1.013,00, porque seu vídeo em nada resultou.

A ação inescrupulosa dos operadores da fábrica de mentiras já havia colocado o governo nas cordas, pois não conseguia superar a avalanche de fraudes que sufocava qualquer explicação racional.

Mas o mata-leão foi aplicado por Níkolas, em um vídeo com milhões de vistas, que pode ter contado com a luxuosa ajuda dos algoritmos da dupla Mark e Musk.

No filmete, em par com outras mentiras, Níkolas, espertamente, reconhecia a falsidade da cobrança de taxas, mas instalava o vírus da dúvida: será que a cobrança não virá no futuro?

Foi o bastante para o deus-nos-acuda sacudir o governo, que recuou de uma decisão correta — inclusive para reprimir a lavagem de dinheiro —, e que seria aceita tranquilamente em tempos normais (que parecem não mais existir).

Por fim, a oposição comemorou a contundente vitória, apesar da mãozinha oferecida a golpistas e foras de lei de maneira geral. Enquanto isso, muitos aliados do PT chamaram o governo de “frouxo”, por capitular à extrema direita.

Mas pesando e medindo o que aconteceu: haveria outra solução?

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