Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.
Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.
Pacoti acordou naqueles dias finais de novembro com a chegada de três dos mais renomados personagens da revista "O Tico-Tico", primeira publicação infantil brasileira que trazia os quadrinhos (1905). Esses personagens são Reco-Reco, Bolão e Azeitona, uma criação do cearense Luiz Sá, o mestre do desenho redondo, que, além de quadrinista, fazia cartuns e tentou emplacar no cinema de animação. Sorridentes e coloridos, tomaram a entrada da cidade - que também é a saída - indicando a todas e a todos visitantes que ali estava sendo construída a "Capital Cearense dos Quadrinhos".
Muitos hoje não conhecem e nunca ouviram falar desses personagens, mesmo quando, naquele tempo, eram alguns dos mais importantes da cobiçada "O Tico-Tico", a mesma em que estreou o Mickey Mouse, na época disfarçado de "Ratinho Curioso".
Luiz Sá teria outros personagens na revista, como "Pinga-Fogo: o detetive errado", "Maria-Fumaça", "Louro, Catita e Totó", "Faísca", "Peteleco", entre outros, que faziam fervilhar o imaginário infantil das primeiras décadas do século XX, mas não resta dúvida de que o trio seria sua maior criação e, até o início dos anos de 1960, uma referência nacional. Na "O Tico-Tico", outro cearense, Leônidas Freire, o "Léo", nascido em São Benedito, na serra da Ibiapaba, criador, entre outros, da "História do Brasil em Figuras" - não se falava em "quadrinhos" naqueles tempos - estrearia ali na nº 1.
Outro nome da nossa história dos quadrinhos que não pode ser esquecido é o de Rubens de Azevedo. Sim, o mesmo que empresta o nome ao nosso Planetário no Dragão do Mar. Na década de 1940, o rapazote, que viria a ser um dos maiores astrônomos brasileiros, já publicava seus quadrinhos em "O Estado", de Fortaleza, uma curiosa história de ficção científica, em 2 partes, em forma de tiras semanais distribuídas em 51 capítulos: "Uma Viagem a Saturno". Em 1961, Rubens publicaria outra ficção científica em quadrinhos: "Os Prisioneiros de Hyperion" no "Almanaque de Aventuras da Bentivegna", uma editora paulista. Gustavo Barroso, provavelmente o autor cearense com mais livros publicados no Brasil, também devotou-se no tempo da juventude na criação de quadrinhos, sendo publicado na "O Tico-Tico" e merecendo-lhe uma capa, com a história de fantasia do príncipe Oscar e o anel mágico. Barroso costumava enviar caricaturas e trabalhos literários a jornais e revistas do Rio de Janeiro. Luís da Câmara Cascudo foi um dos leitores que se deliciava com as aventuras do Oscar criadas, desenhadas e coloridas pelo seu autor... "João do Norte", pseudônimo de Gustavo Barroso.
Mais tarde, teríamos o Hermínio Castelo Branco, o Mino, cartunista e artista visual, pai do icônico Capitão Rapadura, o herói que a tudo atura, publicado pela primeira vez em 1973. Mas além do velho Rapa, Mino criou "Caubi e Iracilda", "Ranzinza, Ranalda e Ranilda", "ETúlio e ETília", "Virgulino", "Zarro", "Rapunzildo", entre outros.
Com o surgimento da Oficina de Quadrinhos da UFC e da revista "Pium", um produto com garantia de qualidade Geraldo Jesuíno, vários artistas já praticantes desentocaram, enquanto outros se descobriram, muitos deles ainda produzindo e até formando novos adeptos à Nona Arte.
O projeto Mostra Sesc HQ de Pacoti, parceria do Sesc com o Ecomuseu de Pacoti, reconhece essa história e esses talentos que brilham nos murais, em exposições, em álbuns e em participações inestimáveis em sua programação, agora, anual. Venha você também conhecer essa fantástica aventura em Pacoti.
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