
Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.
Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.
É este o título do meu último lançamento. Um título que, me parece, desperta certo estranhamento nos leitores, pelo menos em alguns poucos que tenho acumulado em 20 anos de exercício e dos quais invejo a generosa persistência e lealdade.
Uma reunião de crônicas - há quem diga se tratar de contos, e essa confusão meramente didática, acredito, contribui para o efeito desejado - que tem como pano de fundo o mais banal cotidiano de personagens aparentemente simples. Claro, essas pessoas não poderiam ser eu nem você, mas algum de nossos vizinhos, outros parentes distantes, decerto um cunhado, alguém na esquina ou um desafeto de infância. Nunca, nunca essas "coisas..." potencialmente burlescas aconteceriam conosco: um homem que, após o término de relacionamento, sofre como o diabo de saudades e pela perda da... sogra!; o mistério de uma mulher belíssima que não segura namorado, pois dizem: "Homem que tem a dadivosa - é o merecido nome da moça - não presta mais não", gerando especulações e despertando quase uma competição entre corajosos candidatos; Camila, a esposa insegura e obsessiva que não desgruda do sufocado marido; o sofrido Dedé, que não sabendo como fazer para saciar a namorada ninfomaníaca, tenta convencer os colegas de trabalho a "dar uma força"; Peixoto, que não admitindo assistir à nudez da mulher em casa, é surpreendido quando ela veste uma burca; a difícil tarefa do desembargador na tentativa de fazer seu inútil filho a ser alguém na vida; o homem chamado "Ninguém", que se apaixona e vive um conflituoso romance com uma manequim de vitrine; Padilha, que declara seu amor pela esposa do melhor amigo, o Honório, deixando-o absolutamente ensandecido de ciúmes; o sargento Barata que, cansado de ser humilhado pela mulher, percebe que a única forma de ela deixá-lo em paz é dando um jeito para que ela o traia; Petra, a mulher insensível, que nunca chora por nada, mas que descobre o poder das lágrimas cortando cebolas; Jandira, a moralista do condomínio, que incomodada com os gemidos e gritos devassos de um casal vizinho, vai à luta; a garota que despreza o pai, simplesmente por não aceitar ter herdado dele o seu tremendo nariz; o militar da reserva, síndico exemplar do condomínio, até o dia em que colocou uma prótese peniana, entre outras coisas engraçadas... talvez nem tanto, afinal, fazer rir não é fácil. Principalmente no papel, quando não é possível garantir o 'timing' desejado na leitura do leitor, assim como pela ausência de gestos, expressões e voz, instrumentais próprios de humoristas no palco ou mesmo em uma singela mesa de bar. Contudo, mesmo assim, o livro se arrisca, mesmo sem qualquer outra pretensão, a divertir e a conduzir o leitor em um caminho de ironias, referências, alusões, deboche, cinismo e um pouco de paranoia, de forma que comprovemos, com uma boa dose de crítica e de reflexão, a velha máxima de o brasileiro ter a mania de rir de suas próprias desgraças... ou de sua mais comovente hipocrisia.
Os interessados, se manifestem: livrodoray@gmail.com.
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