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Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes: 90 anos
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Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes: 90 anos

Tipo Crônica

"No entardecer da vida, vós sereis julgados no amor" (São João da Cruz)

Filho de Rosa de Oliveira e José Bezerra de Menezes, Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes veio ao mundo em 28 de abril de 1935. Iniciou a sua carreira ininterrupta do magistério com apenas 17 anos, na época, ainda estudante liceísta, na escolinha montada na copa da casa de seu avô Belarmino, aos cuidados da tia Eliete, e tendo como inspiração, entre outros, o educador Lauro de Oliveira Lima (1921-2013), Martinz de Aguiar (1893-1974) - "um misto de Sócrates e Diógenes" - e Capistrano de Abreu (1853-1927).

O jovem pretendia cursar Engenharia, mas com as frequentes temporadas entranhado nos acervos da biblioteca do Liceu e da Biblioteca Pública do Estado - e logo também na biblioteca do Instituto do Ceará, aos cuidados e orientação de Maria da Conceição Sousa -, reconheceu que não era aquele o seu destino. Pensou em cursar Direito, mas, por um acaso burocrático, não pôde fazer vestibular naquele ano e foi convocado pelo serviço militar. Depois, considerando ineficiente o curso de Filosofia da Faculdade Católica, optou pelo da Pedagogia, quando soube que dom Lustosa, arcebispo criador da entidade, não permitia homens nesse curso, pois nele se formavam as freiras. E foi dessa forma que ingressou no curso de Letras Neolatinas. Mal se formara, Diatahy participou de uma seleção de bolsa de estudos pela Aliança Francesa, o que o fez residir em Paris e estudar em Sorbonne, entre 1959 e 1960, alterando irremediavelmente o curso de sua vida e permitindo-lhe o convívio com grandes intelectuais de reconhecimento internacional, entre eles, Jean Piaget, cuja complexa obra o "habitava desde muito cedo como um demônio interior, um grande desafio e muitas indagações". Seria impossível, diante do limitado espaço a mim concedido, citar o extenso currículo de títulos, conquistas, premiações e obras do prof. Diatahy, mas destaco: o bacharelado e licenciatura em Pedagogia, o doutorado em Sociologia (França), pós-doutorado em História Antropológica (França), professor emérito e titular do doutorado em Sociologia, do mestrado em História Social e do mestrado em Letras (UFC) e do mestrado em Filosofia (Uece). É membro do Associação Brasileira de Antropologia, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras. Tem diversas obras publicadas e colabora em revistas nacionais e internacionais. É o responsável por diversas contribuições no campo da ciência, da pesquisa e da cooperação internacional. Resumindo, diante de sua complexa erudição e "pneuma", podemos afirmar ser o mestre uma "enciclopédia de múltiplos saberes", como ele mesmo definiria Câmara Cascudo, quando de sua visita à residência do historiador, na época, com 79 anos.

Pela imensa bagagem cultural e crítica que possui, é cuidadoso com o emprego das palavras e de conceitos, não se deixando levar pelas midiáticas unanimidades e pseudocertezas propagadas rapidamente por aspirantes a intelectuais, sendo ele, sim, hoje, o maior intelectual vivo em nosso estado. E temos a sorte de encontrá-lo, lúcido, sensível, brilhante, despertando pacífica e subitaneamente qualquer debate, jogando luz às ideias, e ainda dando-se o trabalho de ler alguns textos deste que escreve esta modesta nota de admiração. Assim, concluo esta breve celebração, apresentando o espelho daquele que a inspira: "Prefiro as situações onde predominam a simplicidade e a espontaneidade das relações, talvez por ser habitado por natural espírito galhofeiro ou talvez por assumir o propalado traço moleque da cultura cearense, que tende obsessivamente a desconstruir pela ironia quase grotesca todo falso louvor ou glória vã. [...] muito me apraz todavia definir-me para mim mesmo como um contador de histórias". Vida longa prof. Diatahy.

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