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Bolsonaro, o mais incômodo dos ex-presidentes
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Bolsonaro, o mais incômodo dos ex-presidentes

O curso rápido de Política Contemporânea Húngara que Bolsonaro fez na embaixada da Hungria pode lhe sair caro. Mais uma pendenga para ele responder à Justiça.
Tipo Análise
BOLSONARO na Embaixada da Hungria (Foto: Reprodução/The New York Times)
Foto: Reprodução/The New York Times BOLSONARO na Embaixada da Hungria

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Não à toa Horácio aconselha aos seus amigos, no texto “Arte Poética”, que tivessem cuidado ao colocarem um “pescoço de cavalo” atrelado a uma “figura humana”. Ele defende, já naquela época, a ousadia dos artistas, desde que a obra fizesse sentido. “Vocês que escrevem, tomem um tema adequado a suas forças” ou que “aguentam”, reforça, pois é disto que ele vai tratar.

Volto a Jair Bolsonaro e os dois dias que ele ficou na embaixada da Hungria após ter o passaporte retido pela Polícia Federal. O ex-presidente está sendo acusado de planejar um golpe de estado após perder as eleições de 2022. O golpe não deu certo porque alguns generais das Forças Armadas se recusaram a embarcar na aventura. Bolsonaro, agora, se diz perseguido pela Justiça.

Sempre que escrevo sobre Jair Bolsonaro recebo algumas mensagens reclamando que eu também “persigo” o ex-presidente com textos que “sempre” criticam seus atos. Alguns dos remetentes já me aconselharam “a esquecer” Bolsonaro. Não recebo nenhuma advertência sobre erros de informações ou equívocos cometidos nos textos. A contrariedade é pelo simples fato de eu abordar, aqui acolá, temas que dizem respeito ao ex-presidente.

Porém, infelizmente, mesmo longe do poder, Bolsonaro não cansa de ser notícia. Talvez seja o caso do ex-presidente que faz questão de estar no noticiário, lugar que ele tanto praguejou quando estava no Palácio do Planalto. Se você verificar o histórico de outros ex-presidentes brasileiros, Bolsonaro deve ser o único que voluntariamente se mantém em evidência, ora causando escândalo, ora tendo que responder por episódios pouco honrados da sua gestão.

E, agora, ele vai dizer que a imprensa mundial o persegue. A notícia da sua estada na embaixada da Hungria foi noticiada pelo “New York Times". Os advogados dele confirmaram e a justificativa é que ele queria “trocar informações sobre a situação política dos dois países”. Lendo assim, parece que Bolsonaro é o tipo do político que colhe informações, reflete sobre elas, forma um pensamento qualquer sobre alguma coisa. Porque se fosse, não haveria necessidade de ir no domingo à embaixada. Haveriam outros meios mais sensatos de fazer isso.

O curso rápido de Política Contemporânea Húngara que Bolsonaro fez na embaixada da Hungria pode lhe sair caro. Mais uma pendenga para ele responder à Justiça. Se bem que ele não é um homem muito atarefado, mas é chato ficar sempre lendo coisas sobre esse ex-presidente quase onipresente,, e às vezes refletir sobre elas e chegar à conclusão que Bolsonaro é desqualificado até nos erros que comete.

A grande maioria dos erros que leva sua assinatura, seja no governo ou fora dele, até o momento, o atinge tão diretamente que eu penso sobre qual é sua estratégia real. Ele perdeu as eleições, ele perdeu o direito de ser votado, ele perdeu o sossego ao ter de responder, agora com fatos e dados que, sim, tentou um golpe de estado, perdeu, por fim, a certeza de que tinha um Exército para chamar de seu. A bem da verdade, nunca teve.

Ou seja, não corro o risco de colocar o pescoço de um cavalo numa figura humana. Bolsonaro é um ex-presidente incômodo.

 

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