Logo O POVO+
O que é o movimento #TradWife (esposa tradicional)?
Foto de Regina Ribeiro
clique para exibir bio do colunista

Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

O que é o movimento #TradWife (esposa tradicional)?

Nem para Alena Pettitt nem para mulher nenhuma, o mundo voltará aos anos de 1950. E é um grande retrocesso que em vez do movimento das esposas tradicionais ser apenas uma escolha, própria de uma sociedade livre, ele surja como uma derrota de conquistas femininas históricas.
Movimento das esposas tradicionais ganha adeptos no mundo  (Foto: Adobe Stock/daria antipina)
Foto: Adobe Stock/daria antipina Movimento das esposas tradicionais ganha adeptos no mundo

.


Cheguei ao #TradWife (esposa tradicional) a partir de outro movimento, o das “preparadoras”. Este último é formado por mulheres, milhares delas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que estocam alimento em casa à espera de uma hecatombe mundial. Presentes do TikTok e no Instagram, principalmente, muitas fazem estrondoso sucesso ensinando a arte de armazenar grãos.

O depoimento de uma delas, porém, me chamou atenção ao dizer que “ia parar de informar seu estoque nas redes sociais, porque quando o ‘tempo ruim’ chegasse, a casa dela poderia sofrer ataques de pessoas que não tinham guardado nada”. Outra mulher já enfrentava o dilema de ter transformado a casa num armazém de garrafas pet cheias de grãos. 

Quanto ao movimento #TradWives (esposas tradicionais), a situação é um pouco mais complexa. A expoente desse movimento é uma inglesa de 38 anos, Alena Kate Pettitt que mora no Reino Unido. Por meio de um blog chamado “The Darling Academy”, Pettitt ensina outras mulheres a serem submissas e donas de casa exemplares.

Alena Pettitt foi entrevistada pela jornalista Sophie Elmhirst para a revista “New Yorker” e contou que sempre quis ser apenas dona de casa e que se considera uma mulher de sorte por ter encontrado um homem tradicional que aceitou recebê-la para “cuidar dela e sustentá-la”, enquanto ela o coloca num pedestal, arruma a casa e cozinha como se tivesse vivendo nos anos de 1950. Aliás, Pettitt afirma que enquanto as amigas curtiam adoidadas o início dos anos 2.000, entravam para a faculdade e só queriam ser independentes, ela lia revistas antigas com mulheres que tinha a casa como o único espaço de vida e felicidade.

Pettitt na verdade representa uma onda de mulheres que decidiram reconsiderar papéis sociais e voltar para casa no sentido econômico do termo. No Brasil, o discurso da mulher ajudadora e submissa está em vigor há bastante tempo. Tem alguma coisa errada nisso? Depende. Acredito que cada mulher tem o legítimo direito de viver como bem quiser, fazer suas próprias escolhas e seguir em frente.

Agora, essas mulheres não podem considerar que o desejo delas cai como uma luva para todas as mulheres de uma forma universal. Porque isso não é verdadeiro. De fato, nem todas as mulheres suportam a rotina de trabalho, casa, filhos, cobranças da carreira, e muitas outras. Enfrentar isso exige muita determinação e muitas vezes, o sentimento de frustração é real. Não à toa, o adoecimento mental feminino é algo que assusta. Por outro lado, muitas de nós, e aí eu me incluo, não trocariam uma carreira para ficar numa cozinha assando pão, cozendo bolo e fazendo os gostos de um marido saudável capaz de pegar o próprio copo d´água e preparar algum alimento para si mesmo.

Nem para Alena Pettitt nem para mulher nenhuma, o mundo voltará aos anos de 1950. E é um grande retrocesso que em vez do movimento das esposas tradicionais ser apenas uma escolha, própria de uma sociedade livre, ele surja como uma derrota de conquistas femininas históricas. Aliás, essa nostalgia toda em redor do mundo mostra o quanto deu errado a ganância do mercado aliada a uma sociedade incapaz de oferecer melhores condições de trabalho às mulheres e apenas considerá-las uma massa de mão de obra barata.

Foto do Regina Ribeiro

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?