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O Ceará sabe ler e o que mais?
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

O Ceará sabe ler e o que mais?

Tornar uma pessoa leitora é tarefa de uma vida. No entanto, se tem algo pelo qual vale a pena lutar e incentivar é a construção de uma sociedade leitora.
Tipo Análise
Aprender a ler é o primeiro passo para o longo caminho se de se tornar um leitor (Foto:  (Imagem: Monkey Business Imag | Shutterstock) )
Foto: (Imagem: Monkey Business Imag | Shutterstock) Aprender a ler é o primeiro passo para o longo caminho se de se tornar um leitor

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Uma das melhores notícias que li nos últimos dias foi sobre o índice de crianças que aprenderam a ler na idade certa no Ceará. De acordo com os dados do Inep, 85% dos matriculados na escola aprenderam a decifrar o código linguístico de um bilhete simples. E conseguem ler um texto adequado para essa fase da infância. Isso tem um significado muito além do que se possa imaginar. Aprender a ler é o primeiro grande exercício mental que se faz. Hoje, os neurologistas dizem que a leitura praticamente esquadrinha o cérebro da forma mais ampla do que qualquer outra tarefa. Não saber ler é uma limitação vital.

Existe um sem número de pesquisas sobre a leitura e o impacto dessa prática durante todas as etapas da existência humana. Se na infância tem poder de definir os resultados dos estágios escolares, acadêmicos, e mais tarde, profissionais; na vida adulta pode ser um oásis contra o estresse cotidiano, e na velhice, um antídoto contra as demências. O hábito da leitura prazerosa, com certeza, é também uma possibilidade de ampliar as interpretações do real, de ser estimular a capacidade de abstração e da distinção básica entre uma ficção e um fato real.

A conquista do Ceará foi grande. O índice de 85% das crianças cearenses que atingiram a capacidade leitora em nível de alfabetização superou a marca nacional, que ficou em 56% e também estados ricos como São Paulo. O índice paulista de 52% é igual ao do Piauí. Detalhe: o estado de SP tem a maior participação no PIB nacional, enquanto o Piauí tem uma das menores fatias do bolo das riquezas nacionais. O Espírito Santo alcançou 68%, enquanto o Paraná, um dos ricos com melhores pontuações atingiu 73%.

Ensinar uma criança a ler é algo de muita responsabilidade. E essa tarefa não cessa quando isso acontece. Saber ler não é se tornar um leitor. E a meta das secretarias de Educação dos Estados, a sociedade como um todo, famílias inseridas é transformar crianças e adolescentes em leitores que tenham prazer com a leitura. Essa meta é cada vez mais difícil de alcançar.

Quando a gente conversa com qualquer professor universitário, ouve dele a dificuldade de fazer um aluno de nível superior ler um livro, ou mesmo um fragmento deste, num capítulo avulso. Slides se tornaram os livros do momento. Todos querem textos com tópicos, resumos, ideias condensadas e espremidas, seja por profissionais de ensino ou uma inteligência artificial qualquer.

Tornar uma pessoa leitora é tarefa de uma vida. No entanto, se tem algo pelo qual vale a pena lutar e incentivar é a construção de uma sociedade leitora.

Durante alguns anos, trabalhei com livros. E nunca entendi encontros, fóruns e reuniões que envolviam a cadeia do livro nos quais ações de formação de leitores ou era o último item da lista ou sequer aparecia entre os temas a serem discutidos. Precisamos incentivar a leitura, seja emprestando livros, ou participando de um clube. Seja falando de livros em todas as oportunidades possíveis ou indicando livros para serem lidos. Seja doando livros ou apoiando bibliotecas comunitárias.

O incentivo à leitura é uma responsabilidade social que inclui políticas públicas, mas que também nos envolve a cada um.

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