Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
Por que é tão difícil compreender a extrema direita
Se a política existe para perseguir a distribuição de bem estar econômico e social a todos, realmente é para se perguntar: Como essas políticas que jogam a Europa num ambiente que pode forjar o "mal absoluto" já descrito conseguem apoio de tanta gente, com destaque para os jovens?
Está mais do que na hora de (re)ler “Origens do totalitarismo”, de Hannah Arendt. Escrito depois de viver duas guerras, Arendt expõe neste livro – necessário para compreender o século XX – como, na sua visão, foram forjados os movimentos totalitários destrutivos que fez surgir na Europa, o que ela chama de “mal absoluto”. A filósofa explica: “(mal) absoluto, porque já não pode ser atribuído a motivos humanamente compreensíveis”.
Até agora, e talvez nunca aconteça, não conseguimos compreender exatamente como o nazismo convenceu tantas pessoas a cometerem atos impensáveis que incluíram a morte de milhões de judeus, os campos de concentração, as câmaras de gás, os fornos. Da mesma forma que é quase impossível imaginar os julgamentos públicos de crimes não cometidos, prisões, tortura e morte durante o regime stalinista. Hannah Arendt foi odiada pela direita e pela esquerda ao tentar “compreender o mundo”: “Compreender significa, em suma, encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, e resistir a ela – qualquer que seja”, afirma.
Também valerá muito a pena ler alguns fragmentos da filósofa alemã reunidos no livro “O que é política?”. Os textos desta obra foram compilados por Ursula Ludz e trazem reflexões de uma publicação inacabada de Arendt. Num desses fragmentos, a filósofa questiona sobre os sentidos da política na atualidade e conclui que avança sobre o âmbito político possibilidades reais da destruição humana. “O que está em jogo aqui não é apenas a liberdade, mas sim a vida, a continuidade da existência da Humanidade e talvez toda a vida orgânica da Terra”, afirma Arendt.
Esses textos da filósofa nos ajudam a pensar os acontecimentos recentes na política europeia. No último domingo, 9, as eleições do parlamento europeu confirmaram o avanço da extrema direita em países como Alemanha, França, Áustria e Itália.
Desde a saída do Reino Unido da União Europeia, num processo que começou em 2017 e só foi concluído em 2020, muitos intelectuais alertam para o aumento de grupos de extrema direita que se consolidam no continente impulsionando o antissemitismo, clamando em favor da volta das fronteiras entre os países, fortalecendo grupos neonazistas principalmente na Alemanha, alimentando o discurso negacionista contra os efeitos das mudanças climáticas e negando políticas de apoio a imigrantes.
Como se não fosse suficiente essa marcha-à-ré política, o último relatório da OXFam, ONG francesa que acompanha políticas de gênero na Europa, revela que a guinada à direita extremista no continente poderá ter repercussões negativas quanto às políticas de igualdade de gênero e direitos reprodutivos das mulheres.
Se a política existe para perseguir a distribuição de bem estar econômico e social a todos, realmente é para se perguntar: Como essas políticas que jogam a Europa num ambiente que pode forjar o “mal absoluto” já descrito conseguem apoio de tanta gente, com destaque para os jovens? No entanto, de acordo com Arendt, certas mudanças na história do mundo são mesmo incompreensíveis e só nos resta avançar sobre o senso comum, enfrentar a realidade e resistir a ela.
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