Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Está mais do que na hora de (re)ler “Origens do totalitarismo”, de Hannah Arendt. Escrito depois de viver duas guerras, Arendt expõe neste livro – necessário para compreender o século XX – como, na sua visão, foram forjados os movimentos totalitários destrutivos que fez surgir na Europa, o que ela chama de “mal absoluto”. A filósofa explica: “(mal) absoluto, porque já não pode ser atribuído a motivos humanamente compreensíveis”.
Até agora, e talvez nunca aconteça, não conseguimos compreender exatamente como o nazismo convenceu tantas pessoas a cometerem atos impensáveis que incluíram a morte de milhões de judeus, os campos de concentração, as câmaras de gás, os fornos. Da mesma forma que é quase impossível imaginar os julgamentos públicos de crimes não cometidos, prisões, tortura e morte durante o regime stalinista. Hannah Arendt foi odiada pela direita e pela esquerda ao tentar “compreender o mundo”: “Compreender significa, em suma, encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, e resistir a ela – qualquer que seja”, afirma.
Também valerá muito a pena ler alguns fragmentos da filósofa alemã reunidos no livro “O que é política?”. Os textos desta obra foram compilados por Ursula Ludz e trazem reflexões de uma publicação inacabada de Arendt. Num desses fragmentos, a filósofa questiona sobre os sentidos da política na atualidade e conclui que avança sobre o âmbito político possibilidades reais da destruição humana. “O que está em jogo aqui não é apenas a liberdade, mas sim a vida, a continuidade da existência da Humanidade e talvez toda a vida orgânica da Terra”, afirma Arendt.
Esses textos da filósofa nos ajudam a pensar os acontecimentos recentes na política europeia. No último domingo, 9, as eleições do parlamento europeu confirmaram o avanço da extrema direita em países como Alemanha, França, Áustria e Itália.
Desde a saída do Reino Unido da União Europeia, num processo que começou em 2017 e só foi concluído em 2020, muitos intelectuais alertam para o aumento de grupos de extrema direita que se consolidam no continente impulsionando o antissemitismo, clamando em favor da volta das fronteiras entre os países, fortalecendo grupos neonazistas principalmente na Alemanha, alimentando o discurso negacionista contra os efeitos das mudanças climáticas e negando políticas de apoio a imigrantes.
Como se não fosse suficiente essa marcha-à-ré política, o último relatório da OXFam, ONG francesa que acompanha políticas de gênero na Europa, revela que a guinada à direita extremista no continente poderá ter repercussões negativas quanto às políticas de igualdade de gênero e direitos reprodutivos das mulheres.
Se a política existe para perseguir a distribuição de bem estar econômico e social a todos, realmente é para se perguntar: Como essas políticas que jogam a Europa num ambiente que pode forjar o “mal absoluto” já descrito conseguem apoio de tanta gente, com destaque para os jovens? No entanto, de acordo com Arendt, certas mudanças na história do mundo são mesmo incompreensíveis e só nos resta avançar sobre o senso comum, enfrentar a realidade e resistir a ela.
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