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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Pequena e grisalha, levantou-se firme, saiu da plateia para o palco e assim que ficou diante do microfone falou da sua preocupação inicial: teria de contar uma história na casa dos 30 anos em seis minutos. Com uma caderneta na mão, Francinete Cabral Lima, a Dona Nete, mostrou ao auditório lotado da Fiec como se tornou uma referência na cidade no trabalho de transformar resíduos sólidos em atividade comunitária que gera renda. A Fiec foi parceira do I Fórum ESG, realizado pelo O POVO e organizado pelas editoras Beatriz Cavalcante e Carol Kossling.
Dona Nete criou a Sociedade Comunitária de Reciclagem de Resíduos Sólidos do Pirambu (Socrelp) quando o assunto ainda não estava nos “trends” como agora. Enquanto a larga maioria de nós descartávamos resíduos de qualquer jeito, Dona Nete aprendia como transformá-lo em trabalho e salário num bairro pobre, cuja labuta é a síntese de algo ainda mais complexo: conscientizar uma cidade de que é necessário pensar numa cadeia invisível que começa a partir do momento em que recolhemos em casa restos de alimentos, caixas de embalagens, plásticos, papel higiênico usado.
Aos 80 anos, Dona Nete conhece Fortaleza pelo avesso. Soma 58 de Pirambu e destes, 30, no trabalho com resíduos sólidos. Aprendeu que deveria olhar de forma diferente para seu próprio lixo e o produzido pela Cidade desde o início de execução do projeto Sanear, no final dos anos de 1980. Com o conhecimento adquirido, arregaçou as mangas e fez do lixo um negócio coletivo para a comunidade.
Diplomata, afirmou que Fortaleza melhorou um bocado, mas “poderia estar mais bonita”. E foi direto ao ponto de forma amena e elegante: “Fortaleza poderia estar mais adiantada na coleta seletiva”.
Enquanto olhava aquela mulher, que não deve ter tido muita oportunidade de ter feito um curso superior, por exemplo, mas era possível perceber sua capacidade de liderança e de dominar uma plateia de gente estudada e entendida, além de saber transmitir uma mensagem urgente para a Cidade. Dona Nete não falou mal de ninguém, não criticou nenhuma gestão municipal, no entanto, demonstrou não entender por que Fortaleza ainda não tem uma coleta seletiva de resíduos sólidos.
Pergunto: Por que a Prefeitura de Fortaleza, que cobra uma Taxa do Lixo que não é pouca coisa, não implementou ainda uma medida sanitária para a Cidade que seja efetiva, tanto para os moradores quanto para as milhares de pessoas que trabalham com reciclagem no município? Dona Nete sabe das coisas. Segundo ela, os recicladores do Pirambu não conseguem ganhar um salário mínimo com seu trabalho. E parte dessa dificuldade é porque não existe uma coleta seletiva. Ela não falou isso, mas nós, da plateia, fomos capazes de entender nas entrelinhas.
Quando estava para terminar, ela ainda incentivou. “Vamos ajudar Fortaleza. Não falo com vocês, mas falo com a empregada de vocês, ensino a elas a separar os resíduos sólidos em secos e molhados e a não misturar lixo do banheiro com restos de alimentos. Esse é o básico para melhorar o ambiente da Cidade e ainda contribuir com o Planeta. O que acontece de ruim, todo mundo sente”, concluiu Dona Nete, a sábia do Pirambu.
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