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Votarei domingo pelas mulheres trabalhadoras de Fortaleza
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Votarei domingo pelas mulheres trabalhadoras de Fortaleza

Ver e ouvir o "dane-se" do candidato André Fernandes (PL) ao se referir aos elevados indicadores de feminicídio no Brasil, me faz pensar que realmente são as mulheres que podem definir as eleições nesta cidade
Tipo Opinião
Mulheres formam maioria do eleitorado no Brasil e no Ceará
 (Foto: jansen lucas)
Foto: jansen lucas Mulheres formam maioria do eleitorado no Brasil e no Ceará

Ir à padaria da esquina por volta das 15 horas é muito vantajoso. Parece que a padaria é só nossa com suas roscas de queijo fresquinhas e as baguetes com flor do sal e alecrim que acabaram de sair do forno. Dá para examinar os bolos de todos os formatos e sabores com uma vontade imensa de ignorar a recomendação da nutricionista, que me garante que uma ingênua fatia de bolo pode colocar a perder uma dieta inteira. Mas, o melhor é conversar sobre política com duas das meninas dos caixas.

A mais nova tem 20 e poucos anos, concluiu pedagogia, trabalha das 6 às 15h e estuda para concurso no restante do tempo. A outra deve ter uns 50 anos. Terminou o ensino médio e está no comércio desde muito jovem. Essas duas mulheres são, para mim, representantes de muita coisa. Para elas, a política encarna o posto de saúde, a creche para filhos e netos, o transporte público, a moradia, a escola, a universidade. A pedagoga é evangélica, a comerciária, católica.

As duas me dizem que candidatos sobem o altar sem batina na Igreja Católica e sem nenhum pudor na igreja Evangélica. "O pastor não pode dizer em quem devo voltar, não tem esse direito". A católica reclamou que o padre aproveita sermões para indiretas. "É papel dele ensinar e alertar, mas não pode defender A ou B".

As mulheres são maioria do eleitorado no País e em Fortaleza. A maior quantidade delas vive como as minhas amigas da padaria que ganham até dois salários e trabalham em pé boa parte do tempo. O dinheiro sustenta a casa e, de quebra, alimenta esperanças. São também mulheres como as que eu converso que são mortas por maridos e companheiros a torto e a direito no Ceará, estado que chama atenção para os altos índices de feminicídio envolvendo trabalhadoras, com escolaridade baixa/média, pardas/negras que moram nos arredores das cidades.

Ver e ouvir o "dane-se" do candidato André Fernandes (PL) ao se referir aos elevados indicadores de feminicídio no Brasil, demonstrando nenhuma empatia pela causa urgente que é o combate da violência contra as mulheres, proferindo o discurso extremista que compara coisas diferentes como se fossem iguais, me faz pensar que realmente são as mulheres que podem definir as eleições nesta cidade.

Se cada mulher pensar nos prejuízos que as políticas da extrema direita causam, ficaria em alerta. Ideias retrógradas atingem políticas públicas voltadas para saúde e educação, duas áreas prioritárias para todas as mulheres, especialmente para as que dependem do poder público. Democracia é um valor, constitui-se de um arcabouço que nos rege socialmente. As amigas da padaria, porém, têm a democracia como coisa prática, elas querem e precisam melhorar de vida e sabem que isso é ação da política democrática.

Outro dia, a pedagoga-caixa me falou baixinho que muitas mulheres "não estão nem aí para a democracia, porque, vai ver, elas não precisam", sugeriu. Vai ver que a democracia precisa mesmo é de mulheres como aquela menina, que se agarra à vontade política, como algo imprescindível para sua vida. Votarei no domingo por todas mulheres que estão espalhadas por esta cidade imensa e desigual em padarias, quiosques, lanchonetes, com jornadas diárias de oito, nove horas em pé, e que acreditam na democracia.

 

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