Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Tinha tudo para ser um fluxo normal quando minha amiga se dirigiu à empresa para uma entrevista de emprego. O diretor sorridente a recebeu numa conversa profissional e tranquila. Aspectos do currículo foram elogiados, assim como a larga experiência profissional, além, claro, das expectativas sobre a nova função. Combinou-se salário. Estava contratada. No dia seguinte, deveria ir ao Recursos Humanos da empresa com a documentação exigida e começaria a trabalhar logo após cumprir o ritual de registro na empresa.
O atendimento seguiu excelente no RH e a própria responsável pelo setor a recebeu com os documentos. No entanto, minutos depois de examiná-los, a moça afirmou tratar-se de um "engano" e que ligaria para ela até o dia seguinte. Minha amiga não entendeu nada sobre o possível "engano". Mas, tudo bem, aguardaria.
Na manhã seguinte, uma outra pessoa do RH liga para dizer que havia mesmo um engano: a vaga não existia. Por isso, não poderia haver contratação. Foi então que minha amiga decidiu falar com o diretor para entender que tipo de empresa era aquela que entrevista uma candidata para ocupar uma vaga e o RH diz exatamente o contrário, após confirmar com ele próprio.
O diretor, após não conseguir explicar o fluxo errático em que estava envolvido afirmou: "Você está muito velha para o cargo". Minha amiga tem nome, sobrenome e currículo. Suzete Nocrato tem larga experiência em empresas privadas e públicas, ocupou diversas funções na área jornalística e, atualmente, está concluindo mestrado em Comunicação na UFC, na fase final da pesquisa para defender a dissertação. Há dois anos, tomou a decisão de voltar a estudar e este era o primeiro movimento para retornar ao mercado.
Outro dia, conversando sobre o assunto e ela me falava da dor sentida e que reverbera até agora. "Você está muito velha para o cargo" ressoa ainda forte. A experiência infeliz da Suzete é alerta de como boa parte das empresas precisa se preparar tanto para lidar com seus funcionários que estão envelhecendo quanto para a contratação desse público. A empresa que chamou Suzete para a entrevista não era uma startup ou uma pequena empresa sem nenhuma experiência de mercado. Trata-se de uma empresa estabelecida, que mostra o quão distante estamos de relações de trabalho que contemplem a realidade social e econômica contemporânea.
E esta realidade nos diz que as pessoas estão envelhecendo ativamente, estudando e mudando o rumo de suas vidas. Eu fiquei imaginando como seria ouvir "você é velha para fazer esse trabalho". E você estudando, fazendo mestrado, publicando artigos científicos. A experiência da Suzete também sinaliza algo para algumas pessoas que consideram que o tempo para quando estão em determinados cargos com poder de dizer: "este sim, este não". O tempo é implacável. E o próximo ou a próxima pode ser você.
As transformações sociais e do trabalho contemplam a todos nós, independente do cargo que ocupamos em determinado momento das nossas vidas. Mudar e estabelecer critérios claros e respeitosos para contratação de pessoas deve ser meta prioritária das empresas neste mundo em transição veloz e com rápido envelhecimento populacional.
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