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O Cheiro do Queijo e outras marés
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Jornalista, editor-chefe de Cultura e Entretenimento do O POVO

Renato Abê arte e cultura

O Cheiro do Queijo e outras marés

O artista Abu de Pereba cravou: o trabalho do Cheiro do Queijo é mais inventivo do que muita obra atualmente no holofote no sudestino. E o palhaço está completamente certo

Com uma caixa de som estridente, um palhaço canta, rima, faz piada e distribui carisma em parada de ônibus na Avenida da Universidade, no Benfica. Num papelão encostado na parede, os escritos em canetinha vermelha anunciam "Show O Cheiro do Queijo".

Foi assim, em 2018, que eu, enquanto gravava documentário para o YouTube do O POVO, fui apresentado ao projeto sonhado pelo multiartista Abu da Pereba. Natural de Maracanaú, o também integrante do grupo As 10 de Graças de Palhaçaria já demonstrava ali, mesmo com toda a irreverência como estética, a seriedade da obra que produzia.

Corta para 2024. Mais de dez mil pessoas assistem ao espetáculo "O Cheiro do Queijo Sound System" nas areias da Praia de Iracema durante o Festival Elos. O sonho de Abu cresceu, se tornou coeso e somou-se ao talento de Bitobeat, Morcego, Iky Lourenço e tantos outros artistas-colaboradores.

Durante o show, Abu provocou, com bom humor, o público do festival ao pontuar saber que o grupo era desconhecido para a maioria ali. Além disso, cravou: o trabalho é mais inventivo do que muita obra atualmente no holofote sudestino. E o palhaço está completamente certo.

Sonoridade, poética, humor, crítica social, união entre linguagens artísticas. Muitos são os elementos que elevam a qualidade do coletivo de artistas cearenses.

Russo Passapusso, voz do BaianaSystem, concorda. Após atuar como tutor do Cheiro do Queijo na escola Porto Iracema das Artes, o músico reforça o talento da trupe sempre que pode Brasil afora.

Nesta semana, mais um voo. O grupo integra o Maré Cearense, programa realizado pelo Instituto Dragão do Mar, e tem circulado pelos palcos paulistanos. Não precisamos da validação do famoso "eixo nacional", mas dá, sim, orgulho de saber que mais gente terá acesso a um trabalho tão criativo e que amplia o imaginário da arte produzida no Estado muito além dos clichês.

Assim como o Abu e sua galera, muitos são os artistas e movimentos em atuação no Ceará que podem e precisam ser mais reconhecidos pelo nosso público. Um fato é que não falta opção para outras tantas marés cearenses conquistarem as águas por vezes calmas demais da rota Rio-SP. Na contracorrente do marasmo do mais do mesmo, a arte de palhaços do Maracanaú pode ser a chave para novos "pessoais do Ceará".

 

Foto do Renato Abê

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