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Entre Trumps e Musks, ainda estamos aqui?
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Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas

Renato Abê arte e cultura

Entre Trumps e Musks, ainda estamos aqui?

Apologia ao nazismo, LGBTfobia, xenofobia e tantos outros crimes vão se diluindo entre "falas polêmicas" e, de repente, vamos naturalizando o impensável. Aqui no Brasil, conhecemos bem essa sensação de somatório de absurdos
MUSK ao lado de Trump, durante campanha (Foto: Anna Moneymaker / AFP )
Foto: Anna Moneymaker / AFP MUSK ao lado de Trump, durante campanha

Com a nova (velha) ascensão de Donald Trump ao poder e tudo o que esse retrocesso global representa, a sensação é de que estamos presos num looping de recuos. Declínio que agora, mais do que nunca, tem a chancela dos grandes chefes das big techs – personagens que supostamente estão “de olho no futuro”. Mas que amanhã é esse que desenha com tantos líderes interessados no que há de mais arcaico entre nós?

Apologia ao nazismo, LGBTfobia, xenofobia e tantos outros crimes vão se diluindo entre "falas polêmicas" e, de repente, vamos naturalizando o impensável. Aqui no Brasil, conhecemos bem essa sensação de somatório de absurdos gerando uma cascata de descontentamento que, de tão frenética, se torna paralisante.

Mas aí que, rolando o feed do Instagram (entre uma mentira e outra consentida por Mark Zuckerberg), reencontro postagem de Lira Neto que fala sobre contornar “a pulsão de morte” com “anarquia da felicidade”.

O jornalista escreve: “Leitor pergunta como seguir saudável nesta maré de obscurantismo. Sugiro a sabotagem: ler literatura, assistir a bons filmes, frequentar exposições de arte, ir à roda de samba, dançar forró...”. Confesso que, em 2019, quando li essas palavras pela primeira vez, me empolguei mais ao encarar os fatos por esse ângulo. Agora, mais sisudo em 2025, tentei fazer o esforço de cavar alguma esperança.

Não que essa “subversão individual” vá resolver efetivamente o abismo coletivo, mas as palavras de Lira versam também sobre a tomada de fôlego. Afinal, não precisamos nadar no mar do desespero o dia inteiro.

É aí que vem a alegria de ver “Ainda Estou Aqui” indicado a “Melhor Filme” no Oscar. Mais do que a premiação em si, esse feito inédito para o cinema nacional abre caminho para mais gente ver essa obra tão importante de Walter Salles. Além disso, anima ainda mais o lucrativo mercado do audiovisual brasileiro. É o reforço do recado: vale a pena investir em filmes no Brasil.

Também recobrei a animação ao ler o texto do repórter Miguel Araujo (um dos melhores da sua geração) sobre o aniversário de 36 anos do Vida&Arte. É uma conquista muito simbólica para o jornalismo e para a arte a persistência desse espaço tão crucial para o campo cultural.

Empolga também a programação de Carnaval divulgada pela Secretaria de Cultura de Fortaleza, que, em menos de um mês de gestão, montou uma estrutura coesa e atrativa. Teve ainda o disco novo do BaianaSystem com música em homenagem a Fortaleza e outros e outros motivos para que, mesmo momentaneamente, a gente lembre que o retrocesso global avança, mas, por enquanto, nós ainda estamos aqui.

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