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Primeiro semestre de 2024 é o mais violento desde 2020
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Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)

Primeiro semestre de 2024 é o mais violento desde 2020

De janeiro a junho deste ano, Estado teve 1.714 assassinatos. É o maior registro de Crimes Violentos Letais Intencionais no Ceará desde 2020, ano da pandemia de Covid-19, quando foram anotados 2.245 casos
Governador Elmano de Freitas e o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Governador Elmano de Freitas e o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá

Encerrados os seis primeiros meses do ano, já é possível compreender melhor as dinâmicas da violência letal no Ceará. Levantamento feito a partir dos dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) revela que os números de crimes violentos letais intencionais (CVLIs) no primeiro semestre deste ano são os maiores desde 2020, ano da pandemia.

De janeiro a junho de 2024, o Ceará registrou 1.714 assassinatos. No mesmo período de 2023, foram contabilizados 1.387 CVLIs, aumento de 23,5%. No primeiro semestre de 2020, quando houve o motim da PM e o início das ações governamentais de prevenção ao avanço da Covid, foram 2.245 assassinatos. Em fevereiro e abril de 2020, os homicídios superaram a barreira das 400 ocorrências por mês.

Costumo escrever que o policiamento adotado no Ceará é o de contenção, que busca evitar que a violência gerada em determinados territórios possa se espraiar para os demais. Essa estratégia exige demais de quem a cumpre. Embora tenha um efetivo geral de 20 mil militares, a PM precisa lidar com os policiais em escala, os agentes de folga, os que estão de licença médica e os afastados. Estima-se de quatro mil a cinco mil agentes no policiamento diário de um Estado com oito milhões de habitantes.

Uma alteração de grande porte nas dinâmicas do crime causa transtornos ao policiamento cotidiano. Em 2020, o modelo se viu comprometido tanto pela paralisação dos PMs quanto pelo esforço em lidar com o fechamento de estabelecimentos comerciais para cumprir as determinações dos protocolos de prevenção
do Coronavírus.

O incremento da violência letal em 2024 acende alerta sobre a sustentabilidade da política de segurança pública do governo Elmano. No primeiro mês à frente do cargo, o titular da SSPDS, Roberto Sá, conseguiu estancar a sangria dos números da violência letal, que só aumentavam.

Os assassinatos diminuíram em junho/24 na comparação com maio/24: foram 259 CVLIs contra 316. No entanto, os números de junho/24 ainda se mantiveram elevados em relação a junho/23, que registrou 211 casos.

O forte investimento em operações policiais e a mobilização das forças de segurança permitiram a realização de diversas prisões e apreensões de armas de fogo, diminuindo a pressão da opinião pública sobre Elmano.

A pergunta de um milhão é saber se essa redução da violência letal será consistente, mantendo-se, pelo menos, até o fim do ano. Para que todo o esforço feito até o momento não seja em vão, é preciso manter os agentes de segurança motivados para que desempenhem sua função com afinco. Benefícios pontuais contribuem para esse resultado, como ampliação dos extras para acionados nas folgas.

A ferocidade dos grupos armados é realidade sombria para quem atua nas ruas. O soldado David dos Santos Silva, 30 anos, foi atacado no bairro Marechal Rondon, em Caucaia. Morto a tiros e a golpes de machado. Em relatos de quem esteve no local, os criminosos queriam decapitá-lo, para mostrar o poder das facções frente ao Estado.

Tanta selvageria é um fator que certamente abala a tropa. Levantamento da Associação dos Profissionais da Segurança (APS) revela que 12 policiais foram assassinados este ano, no Ceará. Além dos recursos materiais, é necessário oferecer apoio psicológico para quem lida com situações de intenso estresse. A política não se faz somente por meio de leis, programas e decretos. O fator humano é essencial para implementação das medidas.

O calendário das eleições municipais coloca ainda mais ênfase sobre a pasta da segurança pública. Os municípios da Região Metropolitana de Fortaleza sofrem há anos com o crescimento da violência em decorrência da expansão urbana desordenada. Não à toa, os novos 437 soldados cumprindo serviço operacional supervisionado, desde junho, ficarão distribuídos em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.

O Governo do Estado deverá ser alvo de críticas em diversas frentes durante a campanha, cobrado até internamente, haja vista que as chances de vitória dos candidatos apoiados pelo Palácio da Abolição passam pela resposta dada pelo poder público à questão da criminalidade. É um olho na rua e o outro na urna.

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