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Arquitetura, cidade, sertão e patrimônio
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Arquitetura, cidade, sertão e patrimônio

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Tipo Crônica

Lançado no último dia 27/03, elaborado por mim e a minha colega e amiga Beatriz Diógenes e produzido primorosamente pela Fundação Waldemar de Alcântara (Dora Freitas e Sílvia Furtado à frente), circula na praça o Guia dos Bens Tombados do Ceará. Trata-se de uma publicação que traz 66 bens imóveis tombados pelo IPHAN e a Secult/CE em 19 municípios do estado, os quais são minuciosamente descritos em seus detalhes arquitetônicos em belas páginas projetadas por Henrique Baima e ilustradas pelas lentes de Jarbas Oliveira. Realmente, uma festa para os olhos, os corações e as mentes. Vivo fosse, certamente nosso mestre Liberal de Castro, a quem dedicamos um dos prefácios, ficaria feliz com a obra, ele que tanto realizou pelo nosso patrimônio.

Contudo, é um livro que, mais que plasticamente bonito e fonte de uma série de informações relevantes, faz pensar e muito. Nestes tristes tempos, quando se constata uma destruição programada de nossa herança edificada, afirmar o valor histórico-cultural de um acervo construído como tesouro de um povo, mais que uma ação educativa, é um ato de coragem. Enquanto o Edifício São Pedro vai sendo demolido aos poucos, ouve-se a notícia que a bola da vez do desmazelo é o Lord Hotel, tombado provisoriamente pelo município, que, em seus dias de glória, hospedou Roberto Carlos, Dercy Gonçalves e a seleção brasileira de futebol. Vive agora o abandono que destruiu o seu colega da Praia de Iracema. "Preservar o patrimônio é alfabetização", falou Mario de Andrade...

Como não se pode tapar o sol com uma peneira, o Guia também apresenta uma série de edificações em mau estado de conservação, a maior parte deles prédios públicos. Construções fechadas, desabitadas, desertas, desprezadas, esquecidas e destituídas de uso, que é o que dá sentido à preservação. Diz-se comumente que casa vazia é oficina do diabo, vero ditado. Um edifício, por melhor que tenha sido executado o seu restauro, se não tiver uma utilização definida e intensa, vai sempre carecer de obras de conservação e recuperação, perdendo sua substância a cada intervenção dessas. A operação necessária de salvaguarda não pode ser imputada somente aos órgãos públicos, devendo ser atribuída também à comunidade. Ou seja, deve-se construir um consenso.

Há ainda muito o que fazer. Conhece-se muito pouco acerca da realidade do acervo construído cearense. A arquitetura rural, com suas fazendas, sítios, casas de farinha e engenhos, a das praias, a popular, a industrial, entre outras, restam praticamente desconhecidas. Os exemplares modernistas, construídos majoritariamente nos bairros ricos, notadamente as residências, desaparecem a todo instante, tragados pela especulação imobiliária. Não se trata, claro, de congelar os espaços, mas de instituir uma convivência possível entre o novo e o antigo na cidade e no interior. Identificar e documentar, proteger e valorizar o nosso patrimônio é o mínimo que podemos fazer para quem virá depois de nós, a verdadeira alma-mater da sustentabilidade, corrente feita de elos temporais...

Foto do Romeu Duarte

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