Logo O POVO+
A voz do morcego
Foto de Romeu Duarte
clique para exibir bio do colunista

Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

A voz do morcego

.
Tipo Crônica

Ah, a minha mania de consultar dicionários. Refém do generoso e zombeteiro (sim, porque ele sempre ri da nossa crassa ignorância) pai dos burros, leio em suas alentadas páginas que a palavra cadeira diz respeito a “um móvel usado para sentar. Possui um assento plano e costas, geralmente apoiadas por pernas. As cadeiras são encontradas em vários ambientes, como residências, escritórios, escolas, restaurantes, entre outros”, inclusive em estúdios para a gravação de debates políticos. Como se sabe, há diferentes tipos de cadeiras, cada uma projetada para atender a um propósito específico, bem como a outros inusitados, tais como a de ser utilizada como pódio para o povo da bossa-nova, na sua versão banquinho, e como arma, assim visto no embate datena x marçal.

São Paulo (como gosto de ti, Terra da Garoa!), com seus quase 12 milhões de habitantes, metrópole mundial com tantos problemas, ameaças, potenciais e perspectivas, merece uma discussão muito mais qualificada do que a que atualmente lá se dá por ocasião das eleições municipais. De tanta baixaria, o fantasma do rinoceronte Cacareco, irmanado por liames de ectoplasma com as mãos de Paulo Maluf e Tiririca, todos envergonhados, choram Mississipis de lágrimas. Todavia, lá como cá ou como acolá, neste Brasil velho de guerra, o que se vê é a naturalização de um comportamento rasteiro no que tange à política. Violência, falta de propostas, narrativas mentirosas, desconhecimento da realidade urbana, projetos inexeqüíveis, o escambau. É, o ar está irrespirável.

Retumba nas telas a palavra antissistema. O que se quer dizer com este vocábulo? Empreendedorismo (termo que a esquerda, infelizmente, não aceita nem entende, o que a faz distante das periferias)? Self-made man/woman? Cada um/uma se virar, lei de murici, cada um por si? Darwinismo social? Fim do welfare state? Demonização da política? Fim da diplomacia e dos bons costumes? Oportunismo desbragado? O que querem, então, os antissistemas? Apregoar incessantemente um mantra de destruição do estado, da Constituição Federal e dos poderes constituídos, assim como fazem três candidatos à Prefeitura de Fortaleza, tal como seu mentor maior, mesmo valendo-se a valer, como este e seus filhos, do sistema? Quem não sabe brincar não desce pro play.

Vejo as imagens da cadeirada, leio as ponderadas (para não dizer hipócritas) mensagens dos jornais a respeito do fato, ouço lamentos a torto e a direito. Caso houvesse seriedade na política deste país, os antissistemas, por coerência democrática, deveriam ser banidos do ambiente político, já que atentam contra este. Engrossando a fila dos fãs dos canalhas de ocasião, claro, os pobres de direita, baratas adictas de baygon, como sempre as primeiras vítimas da política criminosa da choldra reacionária. Com a boca puro a bílis, decido parar de cometer estas mal traçadas. “Estou entrando no jogo deles”, penso de mim para comigo. De súbito, batendo suas negras asas, o morcego que mora em meu escritório rasga a mortalha: “Quem planta, colhe, quem procura, acha, meu caro”.

Foto do Romeu Duarte

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?