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Bala de prata
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Bala de prata

Costumo dizer, quando quero provocar alguém (como agora), que vai ao teatro quem não tem imaginação ou não vê a vida como uma tremenda peça teatral. Acho que Shakespeare me daria razão. Atores bons e canastrões, cenários variados, roteiros eletrizantes ou água-com-açúcar, direções rigorosas ou de pegada leve, há de tudo para todos os gostos na ribalta da existência humana. Escrevo isso enquanto assisto às movimentações no palco e nos bastidores da acirrada disputa política pela prefeitura de Fortaleza. A preço de hoje, não há quem possa se autoproclamar vencedor. Os bandos amarelo e encarnado se digladiam nas esquinas embandeiradas. Debates e sabatinas já enchem o saco dos eleitores, que anseiam pelo dia da eleição e o sonzinho da urna dizendo fim.

Pensei em dedicar esta crônica à memória de alguns políticos vivos (muito vivos, aliás) que se acham maiores do que são e que acabaram por jogar o seu legado e o seu futuro na lata do lixo. Desisti pelo fato de que seria gastar vela cara com defunto ruim. Fazer política com o fígado e não com o cérebro, alimentar-se do suco do ódio e do ressentimento que as laranjas podres produzem, persistir por teimosia no erro da decisão ruim e tomar partido pelo que há de pior é o caminho mais certo e curto para o buraco. Churchill dizia que, na política, pode-se morrer e ressuscitar muitas vezes. Ironicamente, o fim da 2ª Guerra Mundial, conflito que ganhou com sangue, suor e lágrimas, foi o seu túmulo como homem público. Ave que anda com morcego dorme de cabeça para baixo, dizia minha santa mãe.

Ivan Lessa, um dos meus heróis, dizia que povo brasileiro, a cada 15 anos, esquecia o que tinha acontecido nos últimos 15 anos. Millor Fernandes, outro gênio, afirmava que o Brasil tinha um grande passado pela frente. Não é possível que tenhamos olvidado o que aconteceu neste País entre os anos de 2019 e 2022. Não se trata de simples predileção ideológica, mas de total aversão (para não dizer nojo) a quem nos considerou, nesse triste período, como excremento. Daí, para mim, ver mulheres, negros, indígenas, jovens, gays, pessoas pobres, gente que perdeu parentes na pandemia defendendo um péssimo projeto para a cidade, de duas uma (ou as duas): ou foram vítimas de uma terrível lavagem cerebral ou são iguais ou piores do que aquele em que dizem votar. Dá não, ó...

Claro, numa democracia cada um vota de acordo com a sua consciência. Criado num ambiente politizado e racional, entretanto, valorizo a História como uma via mais do que segura para entender o mundo e os seus moradores. Neste passo, conhecer o que um candidato fez no passado, faz no presente e poderá fazer no futuro, caso eleito, é fundamental. Ser um ás do barbeador manual, adorar humilhar professores, não gostar muito, sendo deputado, de apresentar projetos de lei, não ter nunca administrado sequer um carrinho de pipoca e apoiar e defender quem tenta dar golpe de estado, além de agir como misógino, negacionista e neonazista, não constituem, na minha opinião, itens do cartão de visita de uma candidatura séria. Esta é a semana da bala de prata. Cuida, turma!

 

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