Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.
Juro na cruz que não queria mais uma vez usar este tema para escrever crônicas. Como gostaria de ser leve, falar de passarinhos e bromélias, tal qual meu colega e amigo Demitri Túlio faz. Criado na Base, aluno por onze anos do Colégio Cearense e leitor compulsivo de Nelson Rodrigues, é a ironia e o sarcasmo que comandam a minha mão pesada. Assim como se dá na história do sapo que dá uma carona ao escorpião para atravessar a lagoa, é a minha natureza. Os últimos acontecimentos não deixam margem para outras idéias. Fazia muito tempo que o Brasil não assistia a tanta violência, tanta mentira, tanta desfaçatez, tanta sacanagem. O noticiário exala a crua podridão da realidade nacional, posta a nu pelas investigações da PF. Os culpados, na lona, se borram.
Assassinato do presidente da República, do seu vice e de um ministro do STF (perguntar não ofende: quem sabe se os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo não estariam também na mira dos malfeitores, para interrupção completa da linha de sucessão presidencial?). Criação de uma junta de governo. Entrega do posto de presidente ao antecessor. Plena garantia dos mandatos de deputados e senadores (bombom na boquinha, quem não quer?). Instalação de uma ditadura civil-militar. Construção de campos de concentração para prender os revoltosos. Anistia a todos os criminosos golpistas. Distribuição de medalhas aos bravos patriotas que salvaram, mais uma vez, o país do letal comunismo. O lema "Deus, Pátria e Família" na testa de todos. Sonho de uma noite de verão...
O que parece ser uma bad-trip lisérgica regada com um coquetel de Detefon com Removedor Faísca era, nada mais, nada menos, o planejamento que tinha como mentor/organizador e principal beneficiário o inominável/inelegível/inviajável, agora também tri-indiciado e, de joelhos, de forma covarde e cínica, implorando perdão a quem pretendia matar. A trama, patética, ridícula e sórdida, envolveu o alto oficialato do Exército e da Marinha, entre eles dois generais cearenses, enchendo de vergonha as representações castrenses. Que militares estamos formando com os nossos muitos impostos? Fardados ainda rezando pela cartilha de West Point, anti-democráticos, conspiradores e doidos por um capilé? É hora de mudar o disco. Já pensou sermos defendidos por esse povinho numa guerra?
A última do canalha é tentar jogar a culpa do golpe rastaquera nos coleguinhas de aventura. Com a língua presa, cuspe no canto da boca e camiseta da seleção (como vai mal a Canarinho, não?), o sujeito, mentindo pelos cotovelos, já sabe que vai entrar em cana. Nas telas, seus filhotinhos vociferam contra inimigos invisíveis, numa clara manobra diversionista. Aliás, Lira e Pacheco, como é que pode deputado e senador pugnarem pelo assassinato e pela ditadura? Por que não cassar o mandato de quem pensa e age assim? Olho pela janela e vejo meu pé de jasmim florido como nunca. Flores róseas em sutil contraponto ao verde da folhagem. Quem sabe se não seria melhor apagar tudo o que escrevi e partir deste suave ponto? Berra o satanás que habita em mim: "Ei, anistia é o cacete!".
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