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O Carnaval é um ato político
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

O Carnaval é um ato político

O refrão da bela canção do grande Alceu Valença ecoa nos quatro cantos da cidade, que padecia de calmaria geral
Tipo Crônica

À turma do Sanatório Geral


“Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais”. O refrão da bela canção do grande Alceu Valença ecoa nos quatro cantos da cidade, que padecia de calmaria geral. Escrevendo neste sábado magro, prelibo com imaginação e avidez o néctar que embriagará os foliões deste Carnaval que se anuncia. Uma festa popular que já movimenta de forma diversa os bairros e logradouros de "Fort City". Enfrentando calorão e temporal, além dos descuidistas de sempre, a pagodeira é um real ato político transgressor, embora caracterizado pela fantasia. Mesmo com a liseira e a carestia, todo mundo (ou quase todo mundo, não esqueçamos dos chatos e dos estraga-prazeres) só tem cabeça para o Reino de Momo, o Oscar e a prisão do canalha e de sua gangue, não necessariamente nesta ordem. Aí, é ou não é?

E ela veio, arrasadora, cabal, completa, contundente. Não, não me refiro à rainha da bateria da Unidos do Acaracuzinho, mas à denúncia que o PGR Gonet apresentou ao STF relativa ao rosário de crimes cometidos pela camarilha. Quem esperava uma ducha fria ou um prato insosso enganou-se totalmente. Uma linha do tempo alicerçando toda a argumentação, repleta de provas, muitas delas construídas pelos celerados contra eles mesmos. A conspirata começou lá atrás, em 2021, e tinha como objetivo maior manter o Brasil sob um governo autocrata. Agora, choramingas e borrado, o “mito” implora por anistia e direitos humanos. Uma rês sua, ao meu lado no balcão do bar, explode em ira: “Anistia?! Direitos humanos?! Somos comunistas agora?!”. Dura, duríssima a vida do gado.

“Ainda Estou Aqui” é a grande aposta do cinema nacional em muitos anos. Como em Pindorama fazer sucesso é ofensa pessoal, tal como dizia Tom Jobim, os babacas de plantão já começam a dizer que o Oscar não vale nada, que é um prêmio decadente do cinema imperialista norte-americano e que para valer de verdade é a premiação do festival de uma cidade do interior do Irã. Aí dentro, digo eu. Um filme falado em português, baseado em uma história real que põe a nu os anos de chumbo que vivemos (verbo viver conjugado no passado e no presente), dirigido magistralmente por Walter Moreira Salles e com magníficas interpretações de Fernanda Torres e Selton Mello causando tanto frisson significa muita coisa. Fora os invejosos, todo mundo na arquibancada torcendo...

E se o pré já dá uma ideia do que será o Carnaval, podem ir tirando o pareô do armário e preparando o saco de confete e serpentina. Que vestimentas de folião terão mais destaque? Excetuando-se o inelegível/inviajável/inominável e a sua trupe, que vão merecer “homenagens” as mais diversas dos carnavalescos, não será de admirar encontrar alguém trajado de Augusto Aras com um cartaz escrito “não vejo, não falo, não escuto, apenas me omito”, um sujeito vestido de tenente-coronel do EB dando chilique na avenida, uma senhora a bordo de um rico vestido adornado por um colar de pedras falsas e uma faixa com os dizeres “O segredo das joias”, um gozador com as cabeças dos presidentes da Câmara e do Senado contando dinheiro. É, e por aí vai, criatividade é o que não falta. Evoé!

Foto do Romeu Duarte

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