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O palhaço que queria ser rei
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

O palhaço que queria ser rei

Parece que a Grande Depressão de 1929 não serviu de ensinamento e alerta para quem se acha o dono do planeta Terra
Tipo Crônica
Trump terá consigo maioria nas duas casas legislativas (Foto: CHIP SOMODEVILLA / Getty Images via AFP)
Foto: CHIP SOMODEVILLA / Getty Images via AFP Trump terá consigo maioria nas duas casas legislativas

Pois não é que o palhaço Laranjada botou na cabeça que queria ser rei, custasse o que custasse? Ninguém naquele mundo, que parecia um circo, acreditou na marmota do bufão. Teimoso e insistente que só ele, conseguiu derrubar o dono do picadeiro e com seus cavalos amestrados tomou conta da empanada. "Agora tudo isso é meu!", disse num esgar, "Todo mundo aqui, doravante, vai comer na minha mão!". A mulher barbada, o homem de duas cabeças, os cachorros dançantes, entre outras atrações, começaram a se preocupar. Inicialmente, o arlequim aumentou o preço dos ingressos e botou a grana no bolso. Como se isso não fora pouco, diminuiu ao máximo o salário dos seus empregados. Triste, viu seus súditos irem embora e seu negócio minguar. E foi infeliz para sempre...

Pedindo vênia pela desastrada metáfora, o quadro pintado é o que se me afigura quando reflito sobre a movimentação econômico-financeira mundial. Parece que a Grande Depressão de 1929 não serviu de ensinamento e alerta para quem se acha o dono do planeta Terra. Naquele tempo, a superprodução agrícola e industrial, a falta de regulamentação da economia, o desemprego e a especulação na bolsa de valores levaram o mundo a amargar dez anos de estagnação. Isso num momento pós I Guerra Mundial e no qual os EUA começavam a dar as cartas na economia, situação que iria se consolidar depois do segundo grande conflito mundial. Sozinho na pista, passou a mandar e a desmandar no globo. É claro que um dia as coisas teriam que mudar, né, mané?

Sob Deng-Xiao Ping, a China se transforma num gigante comercial e industrial, com uma das maiores economias da Terra. A União Europeia e o Mercosul, este liderado pelo Brasil, viraram players relevantes. A criação do Brics e do seu banco, condensando as forças do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, gera um contraponto importante a quem se opõe às políticas do multilateralismo e da globalização. Se antes o país ianque determinava certos comportamentos aos demais que sofriam o peso de suas botas, o panorama hoje é radicalmente outro. Ninguém se dobra mais às chicotadas do "Home of the brave and the land of free". O único que não acredita que a situação se alterou é o histrião alaranjado. Urinar contra o vento não fará a América grande de novo...

Qual a resposta dada pelo ridículo truão? Promover uma guerra tarifária contra o mundo, sobretaxando de modo variável alguns países, dentre os quais a China, a Rússia e o Vietnã, estes alvos de tarifas altíssimas. Pagando para ver e querendo saber quem tem mais garrafa vazia para vender, o Império do Meio, mostrando a pujança de sua economia, evitou o assédio econômico elevando as taxas sobre os produtos norte-americanos de 84% para 125%. O bobo da corte, piscando e sentindo o baque da pancada, recuou, suspendendo por 90 dias a tunga antes estabelecida por si. Os donos do dinheiro na terra do Tio Sam já começam a antever um preocupante cenário de recessão e inflação. Na moita, o Brasil sancionou a Lei de Reciprocidade Tarifária. Chapéu de otário é marreta.

Foto do Romeu Duarte

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