Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.
Às vezes penso (penso, não, tenho certeza) que, no Brasil, o crime já ganhou do Estado há muito tempo. Não vou nem me reportar às violências comezinhas do cotidiano (feminicídio, transfobia, estupro de vulnerável, morte por bala perdida e um longo etc.) porque aí seria apenas perder tempo e aumentar o tempo de choro. Refiro-me à captura da honestidade, da administração pública e do Direito, algo que no passado, era promovido e defendido pelo Estado, pela onipresente, violenta e insaciável bandidagem. Organizações criminosas essas, aliás, estabelecidas em diversos níveis e com variadas atuações. Longe está o tempo em que temíamos os ladrões de galinha; hoje são os afanadores das penosas de ouro que mandam. E o pior é quando os dois do título se confundem.
Primeiro réu da chacina do Forró do Gago (ia escrevendo Lady Gaga), na qual foram mortas 14 pessoas, é condenado a 790 anos de prisão. Pergunto aos meus botões: quanto tempo de pena cumprirá? Ou arrumará um atestado médico no qual se afirmará que sofre de mazelas incuráveis, tal como procedeu recentemente um ex-presidente da República, para ficar em casa num dolce far niente, lustrando a tornozeleira eletrônica? Dono de rádio é assassinado por policiais militares no dia do seu aniversário na porta de uma padaria. Advogado teria sido morto por não conseguir soltar cliente. Ex-lutador do UFC é preso por fornecer armas e munições ao CV, ação facilitada por ser CAC, absurdo criado no desgoverno do inominável. Desse jeito, teremos que dar razão ao Marcola...
Pois é, meu povo, as páginas dos jornais gotejam sangue. Quando não o é rubro líquido da vida, é a bílis do ódio por ter sido roubado por quem deveria tomar conta da gente. Quantas vezes presenciei o calvário dos velhos na fila do INSS quando tinha que resolver questões ligadas ao benefício da minha tia. Idosos e idosas chegando em cadeiras de rodas e até em macas para provarem que estavam vivos, numa asquerosa humilhação. De repente, aparece um rombo de mais de R$ 6 bilhões, arquitetado por associações de aposentados e pensionistas e gente do próprio órgão mediante rachadinhas (o nome da treta já diz da sua origem temporal), que começa a ser resolvido agora. O problema é saber como fazer dinheiro transformado em bens ir para os seus legítimos donos.
Como se tudo isso fora pouco, assistimos diariamente às incansáveis tentativas dos seguidores do réu inelegível em livrá-lo da cadeia. O Brasil precisa se encontrar consigo mesmo e um dos caminhos é o Estado virar o jogo em relação ao crime. A pergunta surge imediata: como, cara-pálida, se o Estado está em boa medida contaminado pelo delito, a corrupção e os desmandos? Como aceitar que deputados e senadores peçam anistia para aqueles que destruíram as sedes das instituições onde trabalham, além das demais na Praça dos Três Poderes? Não têm sequer dignidade, ou melhor, vergonha na cara? A raiva já me inflamava quando ouvi alguém, passando na calçada, gritar: "Viva o Papa Leão!". Saí e saudei o sujeito. Com a camisa do Ceará, falou: "É o Vozão, doido".
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