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Adeus Vladimir de Carvalho
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Cineasta e escritor

Adeus Vladimir de Carvalho

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Rosemberg Cariry, cineasta e escritor (Foto: Deísa Garcêz/Especial para O POVO)
Foto: Deísa Garcêz/Especial para O POVO Rosemberg Cariry, cineasta e escritor

Recebi a notícia da partida de Vladimir de Carvalho no aeroporto de Cusco, quando já estava embarcando para o Brasil, através de uma ligação do poeta e cineasta Nirton Venâncio. A notícia tocou fundo a minha alma. Fiz a viagem entre nuvens, de olhos fechados, lembrando desse amigo querido, em meio ao vislumbre das cordilheiras, dos cerrados, florestas e sertões que o habitaram.

Partira Vladimir de Carvalho o cineasta Paraibano que reinventou o cinema nordestino, com a sensibilidade dos poetas e a garra dos guerreiros. Captada por sua lente, a realidade mais dura ganhava profundidade poética, pois era tocada pelo desejo da sua redenção. Ele trazia consigo as lições dos grandes mestres do cinema.

Entre eles, se fez grande, integrando o chamado Cinema Novo - considerado o mais importante movimento do cinema brasileiro. Pertenceu a uma época em que se ousou pensar o Brasil (em suas misérias e maravilhas), mas sendo capaz de oferecer ao mundo uma "civilização nova" - sonho de Luís Carlos Prestes, Glauber Rocha, Darcy Ribeiro e outros destacados brasileiros.

Por uma estranha coincidência, cheguei a Brasília, onde estava agendada uma exibição do filme "Corisco e Dadá", restaurado em 4K, a tempo de me despedir de Vladimir. Ainda no hotel, cansado da longa viagem, soube que o seu corpo estava sendo velado no Cine Brasília. Dirigi-me para lá, onde encontrei muitos amigos.

Diante do corpo do homem que ali completava a sua missão na vida, um cineasta simbolicamente tão grande, em face de sua fibra e coragem para a luta, o que me invadiu mesmo foi uma imensa ternura. Abracei os amigos e rezei pela paz do mestre. Na mesma noite, no mesmo cinema, emocionado, exibi "Corisco e Dadá" e dediquei a sessão ao querido Vladimir.

Viva Vladimir de Carvalho, Manfredo Caldas, Linduarte de Noronha e todos os gigantes do sertão paraibano. Partiram, mas estão presentes nessa terra imensa, de lonjuras e sonhos, onde o Cinema Novo se inventou. O país de São Saruê, sonhado pelo poeta paraibano Manuel Camilo dos Santos e mostrado pelo avesso no filme de Vladimir, é a utopia mais ousada. Viva para sempre o cinema brasileiro!

Foto do Rosemberg Cariry

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