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Utopia, distopia e microutopia
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Cineasta e escritor

Utopia, distopia e microutopia

.Diante desse quadro desolador, a bússola da sobrevivência aponta para o exercício de "microutopias". Estas são transformações possíveis em pequenos espaços e agrupamentos sociais, com base em princípios ecológicos, culturais e societários.
Tipo Opinião
Movimento dos Trabalhares Rurais Sem Terra (MST) (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil Movimento dos Trabalhares Rurais Sem Terra (MST)

Os antigos povos mediterrâneos sonhavam com um retorno à "Idade do Ouro", um estado de celebração entre o homem, a natureza e o espírito, onde todas as necessidades seriam supridas para uma vida feliz. Os medievos teologizavam cidades celestes onde poderiam viver em felicidade plena.

Após sua expansão náutica, mercantil e colonialista, a Europa moderna vislumbrou, nas terras e nas sociedades autóctones da América, um "paraíso" terreno. Concebeu a "utopia", a existência de um Estado perfeito, oposto a tudo o que lhe era inerente. Depois, reduziu esse "paraíso" ao inferno da exploração mercantil e da escravidão, pondo em movimento o "engenho colonial de moer gentes", como diz Darcy Ribeiro.

Nos tempos atuais, com a supremacia do tecno-feudalismo e a absurda concentração de riquezas, onde os mercados virtuais controlam corações e mentes, surgem os neofascismos, ainda mais sofisticados e brutais.

Desponta a "distopia" contemporânea, na qual os genocídios tópicos são apenas exercícios para uma ação global, a exemplo do que tem sido praticado na Palestina pelo Estado de extrema direita de Israel, com apoio dos EUA e da União Europeia.

Trump e Netanyahu são expressões visíveis do obscurantismo e da violência real e simbólica que reinventam o controle social, o narcisismo psicótico, a posse e a concentração do grande capital, apoiados por seus "reichs" digitais e pela indústria da guerra, que forjam suas necropolíticas devastadoras.

Diante desse quadro desolador, a bússola da sobrevivência aponta para o exercício de "microutopias". Estas são transformações possíveis em pequenos espaços e agrupamentos sociais, com base em princípios ecológicos, culturais e societários.

Despontam, aqui e ali, núcleos de vida e de equilíbrio possível, vividos em coletivos maiores ou em pequenos grupos. Assim, nos acampamentos dos Sem-Terra, nos quilombos, nas romarias, nos festejos dos Impérios do Divino Espírito Santo, nas aldeias indígenas, nos terreiros de cultos afro-brasileiros, dentro do caos da metrópole, em qualquer lugar — seja uma casa ou um pedaço de rua — podem ser experimentadas as "microutopias". São vagalumes a brilhar nessa assombrosa noite escura.

 

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