Rubens Rodrigues é jornalista, editor de Cidades do O POVO. Nesta coluna, trata de assuntos ligados a raça, diversidade e direitos humanos. MBA em Jornalismo Digital e pós-graduando em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUCRS. Está entre o TOP 50 +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira.
Qual é a medida da humildade e da gentileza para a branquitude
A branquitude tem suas estratégias para diminuir o valor da vivência de uma pessoa negra. É evidente essa capacidade de se sentir no direito de atribuir ao outro "bons modos", o que dizer, como agir. E se fosse o contrário?
Foto: JAVIER SORIANO / AFP
Vini Jr. é um dos principais nomes do Real Madrid
Não consigo esconder o incômodo toda vez que vejo uma pessoa branca dizer como um homem negro deve agir. O desses últimos dias, que veio até um pouco fora de timing, foi de que o jogador Vini Jr. deve entender que humildade e gentileza "geram melhores resultados" do que atrair antipatia.
Na literatura científica há conceitos que me vêm à mente quando vejo afirmações como esta. Tem hora que me lembro do "racismo cordial", aquele que é mais difícil de ser percebido por estar camuflado na opinião pública como, bem, opinião. Aí há de se reconhecer por que é conveniente essa defesa do "é só opinião" e quem a faz.
Em entrevista à BBC, a jornalista científica com PhD em virologia e imunologia pela University of Oxford Layal Liverpool caracteriza o racismo como uma crise de saúde pública. Ela considera que o povo negro "sofre tensões diárias, como ir a uma loja e ser seguido, por conta dos estereótipos de que as pessoas negras são mais propensas a cometer assaltos".
Além de jornalista, Layal Liverpool é biomédica e também foi pesquisadora da University College London. Ela é autora do livro "Systemic: How Racism is Making us Ill" ("Sistêmico: como o racismo está nos deixando doentes", em tradução livre).
A jornalista, biomédica e pesquisadora Layal Liverpool é autora do livro "Systemic: How Racism is Making us Ill"
Crédito: Reprodução/Instagram @layallivs
Racismo recreativo e os conceitos por trás das microagressões
Em "
Racismo Recreativo
Volume da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro.
", o jurista e doutor em Direito pela Harvard University Adilson Moreira explica o conceito de microagressões. Ele diz no livro que certos autores identificam três tipos de microagressões: microassaltos, microinsultos e microinvalidações. Quero destacar os dois últimos tipos.
Adilson Moreira fala que os microinsultos são “formas de comunicação que demonstram de maneira expressa ou encoberta uma ausência de sensibilidade à experiência, à tradição ou à identidade cultural de uma pessoa ou um grupo de pessoas”.
O autor destaca que podem até ser não propositais, no entanto são manifestações de um “sentimento de superioridade que uma pessoa sente em relação à outra por fazer parte de um grupo dominante”.
Já as microinvalidações ocorrem quando paramos de atribuir relevância às experiências, aos pensamentos e aos interesses de um membro específico de uma minoria.
A branquitude tem suas estratégias para diminuir o valor da vivência de uma pessoa negra. É evidente essa capacidade de se sentir no direito de atribuir ao outro “bons modos”, o que dizer, como agir. E se fosse o contrário?
É preciso ter ciência de que o racismo, muitas vezes com sutilezas que passam de inofensivas, permite que estereótipos sejam reforçados por meio de práticas discriminatórias. A medida da humildade e da gentileza não é a mesma para todos.
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