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As drogas (lícitas e ilícitas)
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Psicóloga e psicanalista

As drogas (lícitas e ilícitas)

É urgente que posamos dilatar as discussões a fim de desencadear um debate necessário no que diz respeito à essa cena na qual a ideia de que um comprimido vai restituir um pretenso bem-estar, vai nos livrar da dor de existir, da angústia
Tipo Opinião
Teto para reajuste de medicamentos em 2024 fica em 4,5% (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Teto para reajuste de medicamentos em 2024 fica em 4,5%

O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, celebrado no último dia 20 tem como objetivo sensibilizar e mobilizar a sociedade no sentido de promover reflexões acerca do consumo das drogas ilícitas e do álcool. No entanto, enquanto profissional do campo da saúde mental e da saúde pública o que mais nos chama a atenção (e não é de hoje) é o consumo das drogas lícitas (psicotrópicos) vendidas nas farmácias com prescrição médica. A título de ilustração, de acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58% entre os anos de 2017 e 2021.

Sabemos que a história da psiquiatria não explicita que desde os anos de 1840 até por volta de 1845 drogas como éter, clorofórmio, ópio, haxixe eram utilizadas de forma muito geral e que as mesmas funcionavam como estratégia de disciplinar os corpos, de docilizar as vidas, de acalmar, de silenciar. Com o advento das drogas psicotrópicas nos anos 50 do século passado, que muitos consideram uma revolução psicofarmacológica, o objetivo foi e continua sendo o mesmo, silenciar a dor de existir. Como diz Paulo Amarante no livro que deixo aqui como sugestão de leitura para os interessados no assunto (Patologização e Medicalização da Vida: epistemologia e política), a saída lucrativa da química salvadora que dociliza os corpos e mentes mediante o uso orquestrado dos fármacos se faz presente diante de um Estado intolerante ou omisso.

É urgente que posamos dilatar as discussões a fim de desencadear um debate necessário no que diz respeito à essa cena na qual a ideia de que um comprimido (ansiolítico, antidepressivo, estabilizador de humor, entre outros) vai restituir um pretenso bem-estar, vai nos livrar da dor de existir, da angústia, quando na verdade todos eles operam no sentido de alienar o sujeito acerca de seu desejo. Antes que um ou outro diga que em alguns casos o uso dos psicotrópicos se faz necessário adianto que a questão aqui é de outra ordem, ancora-se em uma lógica do aumento do consumo, do lucro desmesurado, dos excessos, da mesma forma que podemos pensar, por exemplo, no uso excessivo da tecnologia e seus efeitos nas subjetividades.

 

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