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Fortaleza e o lixo
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Psicóloga e psicanalista

Fortaleza e o lixo

Lá no seu "O mal-estar na civilização", Sigmund Freud nos diz que a ordem civilizatória é o preço que pagamos para manter o laço social. Não "podemos" dar vazão aos nossos instintos como gostaríamos, daí o mal-estar
Lixo nas ruas de Fortaleza (Foto: Fábio Lima/O POVO)
Foto: Fábio Lima/O POVO Lixo nas ruas de Fortaleza

Infelizmente sabemos que a nossa Fortaleza, capital com mais de dois milhões e seiscentos mil habitantes, não é um território no qual a consciência ambiental da população chame a atenção. Também não vislumbramos o poder público imbuído de pensar estratégias que foquem na educação nesse quesito (educação que deveria estar na linha vermelha em todas as políticas públicas, mesmo a gente sabendo que educar é da ordem do impossível, assim como governar!).

No que diz respeito à limpeza urbana, sempre achei que deveria acontecer no período da madrugada para que a cidade pudesse amanhecer limpa. Lembro que quando cursava o mestrado em Saúde Pública, certa vez, conversando com um professor cubano convidado da Faculdade de Medicina da UFC (Fernando Rey), falávamos a esse respeito e comentei que as cidades poderiam ter um sistema subterrâneo que sugasse o lixo para que fosse processado, algo parecido com o que acontece nos parques da Disney. Lembro também de uma professora muito querida (Sílvia Cavalcante) e de uma pesquisa coordenada por ela que tinha como objetivo investigar como uma determinada população (se a memória não me deixa falhar, da Prainha) descartava o lixo.

Sabemos que limpeza, higiene, ordem (entre inúmeros outros aspectos) são dados que custam muito caro ao nosso psiquismo visto serem imposições culturais. Lá no seu "O mal-estar na civilização", Sigmund Freud nos diz que a ordem civilizatória é o preço que pagamos para manter o laço social, daí o mal-estar. Não "podemos" dar vazão aos nossos instintos como gostaríamos, daí o mal-estar. Jogar o lixo na calçada, na rua, no meio fio, certamente segue esse dispositivo de um imperativo pulsional (faço o que quero) que explicita o quão primitivos somos enquanto coletividade. Aprendemos também com Freud que viver é tentar atrasar a fatalidade inevitável da morte. É a Pulsão de Vida (Eros) que nos possibilita fazer da vida algo diferente de uma montanha de lixo. Algo que Vik Muniz e sua arte soube fazer de forma extraordinária!

 

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