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De dentro para fora
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Psicóloga e psicanalista

De dentro para fora

Foi a curiosidade dos jovens franceses pelo mal de seu tempo assim como foi a curiosidade da personagem Rilley com relação às suas crenças e suas descrenças que nos dão a esperança de que podemos seguir adiante acreditando que a vida vale a pena
Tipo Opinião
Personagem Rilley (Foto: Pixar/Divulgação)
Foto: Pixar/Divulgação Personagem Rilley

A continuação do filme "Inside Out" (por aqui, Divertidamente), lançado mundialmente em junho, traz a personagem Rilley, agora a adolescente com 13 anos vivenciando algumas novas emoções, bem características desse período do ciclo vital. Ansiedade, Vergonha, Inveja e Tédio se somam a Alegria, ao Nojinho, a Raiva e a Tristeza. Na trama, recortes marcantes das metamorfoses vivenciadas pela garota na entrada da puberdade são delineados.

Tempo de transição, esse período tem duração variável e encaminha o sujeito para a adultez emergente. Muitos são os lutos que permeiam as adolescências: o luto do corpo infantil, o luto dos pais da infância e o da relação infantil de dependência para com eles. Todo esse cenário vai dando abertura para a nova identidade na qual ocorre uma diminuição da idealização dos pais, onde as amizades vão tomando a linha de frente, onde a criatividade e a integração ao mundo adulto vão sendo burilados.

Na película, destaco o sentimento de exclusão vivido por Rilley como marcante desse momento em que a adolescente se encontra. Lembro de Freud quando dizia que se sentir por fora é parte constitutiva de quem acreditamos ser. Adolescer é uma oportunidade para que possamos nos organizar em torno dessas experiências de exclusão até porque ser e se sentir excluído são problemas da humanidade e que ninguém está ou jamais foi excluído da experiência de ser excluído, como diz o colega inglês Adam Phillips.

Diante de um tempo desbussolado no qual são múltiplas as possibilidades que se oferecem, onde toda ação é arriscada e inclui a responsabilidade do sujeito, diante de uma desilusão cultural que beira à catástrofe, diante da profundidade da crueldade, será que os jovens têm motivos para acreditar na natureza humana? Penso que o resultado das eleições na França no último domingo sinalizaram que sim. Foram eles que entenderam o que o avanço da extrema direita significa para a França e para o mundo. Foi a curiosidade dos jovens franceses pelo mal de seu tempo assim como foi a curiosidade da personagem Rilley com relação às suas crenças e suas descrenças que nos dão a esperança de que podemos seguir adiante acreditando que a vida vale a pena e que a construção de um mundo melhor está sempre em nossas mãos.

 

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