
Psicóloga e psicanalista
Psicóloga e psicanalista
Em seu texto de 1924 intitulado "O problema econômico do masoquismo" Freud discorre, em linhas gerais, como podemos compreender o fato de que uma pessoa possa ter prazer com a dor, com o desprazer, com a crueldade, nos apontando o par sadismo-masoquismo, o que pode ser compreendido no sentido de ativo-passivo. Uma das nossas cantigas de roda mais conhecidas ilustra esse tipo de prazer. "Atirei o pau no gato". Cantávamos e as crianças continuam cantando. E gostando. Tendo prazer e entoar a música. Ao final, de mãos dadas, todos agachávamos com o "miau" que o gato deu. Essa é a parte obscura de nós mesmos, como diz a psicanalista francesa Elizabeth Roudinesco. Adianto aqui que não há nada de errado na música. Cantando a gente bota pra fora nossa pulsão destrutiva e não vai, de fato, atirar o pau no gato.
Aprendemos com o genial Freud que somos perversos polimórficos, ou seja, nossa sexualidade é perversa. Esse é um traço original de todos nós, buscamos ter prazer das mais diversas formas, inclusive com a dor. Um sujeito pode ter prazer causando dor em si mesmo, colocando-se na posição de espectador, como por exemplo em um caso clínico no qual o paciente verbaliza sentir prazer e alívio quando passa uma gilete no braço e observa o sangue escorrer. "É assim que me sinto vivo", dizia.
No cinema, lembro aqui do filme "A professora de piano" no qual a personagem principal interpretada pela atriz Isabelle Huppert, que vive uma relação de amor e ódio com sua mãe controladora, apresenta traços perversos que fazem com que ela sinta prazer em maltratar e depreciar seus alunos no conservatório, como na cena em que coloca cacos de vidro nos bolsos do casaco de uma aluna para que assim tenha suas mãos impedidas de tocar.
Prazer muito parecido com aqueles que assistem lutas de MMA, por exemplo. O sujeito vibra, fica em êstase ao assistir um lutador esbofetear o adversário. Quanto mais sangue melhor. Ou ainda com os programas policiais que mostram a violência nossa de cada dia. Por que tais programas têm a audiência que têm? Porque as pessoas gozam, têm prazer em assistir a desgraça, a violência, a destruição. É esse o lado sombrio de todos nós. Uns mais, outros menos.
Nos próximos dias 24, 25 e 26 estaremos discutindo essas temáticas no V Simpósio Internacional de Psicanálise da Unifor cujo tema central dessa edição é o texto centenário do mestre vienense citado acima. Evento gratuito e aberto ao público que terá a participação de psicanalistas de Fortaleza, da França, da Argentina, de Porto Alegre e de São Paulo. É a psicanálise no século XXI mais viva do que nunca!
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