As violências contra meninas, mulheres e gestantes no Ceará
Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
As violências contra meninas, mulheres e gestantes no Ceará
Fortaleza concentra 59% das notificações gerais de violência contra a mulher, o que desenha um parâmetro proporcional, mas também desnuda a necessidade de mais centros de atendimento em saúde no Interior
Meninas e mulheres jovens, entre 10 e 39 anos, são a grande maioria das vítimas de violência no Ceará. Entre as notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de 2009 a 10 de outubro de 2024, esse grupo representou 63% do total de 96.320 notificações.
Os números são do Boletim Epidemiológico de Notificações de Violência Interpessoal/Autoprovocada Contra Mulheres no Ceará. Nas mais de 96 mil fichas preenchidas em unidades de saúde do Estado, foram relatadas 117.763 casos de violência interpessoal (cometida por outra pessoa) e 23.326 de violências autoprovocadas. O documento ressalta que é possível notificar mais de uma forma de violência em cada ficha de notificação.
O crescimento de notificações ao longo desses nove anos é quase constante. De um ano para o outro, os números que aumentavam em centenas passaram a apresentar crescimento na casa dos milhares. Houve queda apenas entre 2019 e 2020, época de isolamento social.
De 2022 para 2023, foram nove mil notificações a mais de violência interpessoal. Em 2024, até o dia 16 de agosto, o Ceará havia registrado 14.333 casos. O grupo de mulheres entre 20 e 39 anos é o mais afetado, representando 38,8% do total, seguido do de meninas de 10 a 19 anos, com 25%.
O boletim expõe realidades ainda graves, como a de 1.649 gestantes violentadas e das 15.953 meninas e mulheres vítimas que tinham alguma deficiência ou transtorno.
Fortaleza concentra 59% das notificações gerais de violência contra a mulher, o que desenha um parâmetro proporcional, mas também desnuda a necessidade de mais centros de atendimento em saúde no Interior.
Os dados de profilaxia em casos de abusos sexuais também podem ser monitorados através das fichas do Sinan. Também é possível saber quantas vítimas utilizaram contracepção de emergência e quantas tiveram direito à profilaxia para aborto previsto em lei.
Dados que precisam ser analisados para servirem de base para a criação de políticas públicas. E isso considerando que o caminho entre a violência e o posto de saúde ou hospital é longo e difícil.
O boletim, entretanto, apresenta lacunas. Algumas informações acabam não sendo relatadas ou escritas nas notificações, o que mostra falha no preenchimento e necessidade de capacitar cada vez mais servidores que acolhem essas vítimas. Em relação à motivação das violências, 38% não tinham definição. Outros 18% são categorizadas como "não se aplica". Em 61% das notificações de casos com mulheres grávidas não havia especificação sobre o período gestacional. Do total de violências, 25% dos casos tiveram a escolaridade da vítima ignorada.
O POVO já mostrou a falta de cruzamento de informações entre órgãos. É preciso prevenir, proteger e acolher. Mas como? Onde? Quem? De quem? Quando? Temos esses dados, falta trabalharmos em cima deles de forma mais efetiva. n
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