
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
A gente teme estacionar e não sair rapidamente do carro. Ou teme desativar o alarme e não ser rápido o suficiente para entrar no carro e sair, porque tem que empreender uma sequência de ações quase instantânea, para se manter na aparente segurança. E se estivermos com criança, o medo aumenta. “Ainda tem que botar o cinto dela, melhor ela não ir”. Ou se vai com ela, mas é preciso treiná-la, antes, a entrar e a sair do carro como um foguete, à revelia do tempo dela própria.
A gente teme ser surpreendido no semáforo. A gente teme as ruas, o caminhar nas ruas, o caminhar nas ruas à noite; a gente - mulheres - teme caminhar nas ruas sozinha em qualquer horário do dia e da noite. Mulheres temem estar com os filhos pequenos nas ruas “sozinhas”, em qualquer horário do dia e da noite. Mas a gente também teme frequentar espaços com muita gente.
A gente teme ir ao parque aos domingos brincar de bola ou assistir a apresentações artísticas com as crianças. “Tem segurança lá?”. É o que me perguntam quando convido amigos a programações ao ar livre, em espaços públicos.
A gente teme frequentar bairros mais distantes da nossa bolha de costume. A gente teme participar de projetos de voluntariado em comunidades que já têm históricos nefastos de exclusão. “Eu soube que tem facção lá, não vou”. A gente teme e se resigna. A gente teme e a segregação aumenta.
A gente não deixa o menino e a menina irem ao supermercado, localizado na rua ao lado, sozinhos. A escola fica na mesma rua, já é criança grande ou adolescente, mas a gente não deixa ir à escola sozinhos. De ônibus? Nem pensar! Muitas crianças da periferia ainda vão sim. Das zonas rurais também. Não tem essa de transporte escolar. E nem sempre tem ônibus particular da Prefeitura. Mas tem o medo dos paus de arara. A gente também teme. Isso é legítimo! Porém, aí, já é outra querela.
A gente teme deixar dormir na casa do coleguinha, ou viajar com a turma da escola. A gente teme deixar passar as férias, sem os pais, na casa dos avós, no interior. Sei lá, não é? Ninguém nunca sabe: aquele primo ou tio mais distante, os vizinhos… São tantas notícias ruins que a gente ouve e lê. A gente não confia de jeito nenhum em quase ninguém da "aldeia", mesmo as que possuam alguma referência positiva. São tantas notícias ruins que a gente ouve e lê.
A gente reclama das gerações apáticas, disfuncionais e emocionalmente instáveis que estão chegando à idade adulta, que parecem não se importar com o que quer que seja, mas nos esquecemos de que vimos moldando uma geração insegura, poupada de riscos, sem autonomia, autoconfiança e resiliência suficientes para correr perigos e saber lidar com frustrações, esperas, diversidades em todos os âmbitos.
Há habilidades, físicas, emocionais e sociais, que só a ausência dos cuidadores, no momento e no tempo certo do desenvolvimento de cada criança e adolescente, é capaz de fazer despertar.
A gente teme e vai desistindo das cidades e da própria cidadania, das pessoas, das histórias do outro que nos aproximam e fortalecem, da solidariedade, da nossa humanidade mais visceral. A gente vem desistindo de conviver e vem ensinando às crianças que conviver é perigoso, e arriscar conviver é ativar estratégias de sobrevivência.
Os estresses que surgem dos diversos medos, que nos deixam em estado de alerta quase 24 horas por dia, alteram de maneira significativa estados emocionais e podem gerar quadros depressivos, ansiedades, baixa autoestima, pânicos sociais.
Eles incidem diretamente na capacidade de crianças e adolescentes concentrarem-se em atividades, aprenderem de maneira natural e saudável e terem empatia pelo outro. O medo constante nos afasta e nos desumaniza. Crianças podem se tornar mais arredias, desinteressadas pelo mundo e pelo outro, e querer bem mais o conforto do isolamento.
Os nossos filhos, nascidos a partir dos primeiros anos deste século, delineiam uma geração educada para ter medo, inúmeros medos. E nós, cuidadores deles, não estamos errados em influenciá-los dessa forma.
Estar vivo tem valido mais do que viver humanamente, ainda que seja necessário reinventarmos a convivência. Eu ainda prefiro resistir e me unir a quem também acredita na resistência do afeto, do aperto de mãos, do abraço apertado que nasce do (re)encontro, do gargalhar junto que faz escorrer lágrimas de alegria.
Como resposta a essa desconfiança constante do outro, especialistas temem o aumento do tempo (ainda mais!) em casa e diante das telas, o que expõe toda a família a uma falsa segurança, talvez, muito mais perigosa e devastadora para a formação de crianças e adolescentes, mas esse debate a gente vai deixar para o próximo texto.
Pega essa dica bonita e vai pra rua com as crianças! Vamos escolher interagir com o mundo pela alegria dos (re)encontros reais! Vale a pena!
A dupla querida de palhaços Romina e Felipe, que dão vida à Companhia Laguz Circo e Teatro, começa uma nova jornada pelo Ceará com o projeto Circulação Cotidiano Nordestino. Entre os dias 21 de março e 5 de abril, eles passam por Quixeré, Alto Santo, Trairi, Itapipoca e Maracanaú.
Nas cinco cidades, a companhia apresentará o espetáculo “Cotidiano Nordestino” e ministrará a oficina “Profissão Artista”. Tudo com acesso gratuito! Contemplado no 13º Edital Ceará das Artes, da Secretaria da Cultura do Ceará, por meio da Lei Paulo Gustavo Ceará, o projeto é parte das comemorações pelos 11 anos do grupo.
Companhia Laguz Circo e Teatro
Quixeré
Alto Santo
Trairi
Itapipoca
Maracanaú
Sinopses:
O espetáculo "Cotidiano Nordestino" retrata a vida de um homem do campo, ambientado no Nordeste brasileiro ou em qualquer interior do país. A história acompanha um palhaço no seu cotidiano, que sonha em se tornar artista.
Entre as dificuldades da sua rotina, ele se depara com um problema global: a escassez de água, consequências da ação humana. Com uma abordagem leve e bem-humorada, a peça convida o público a refletir sobre os desafios do sertanejo e a importância da preservação ambiental. Em cena, o artista cearense Felipe Abreu.
A oficina "Profissão Artista" é voltada para grupos parceiros das cidades visitadas, além de artistas iniciantes e profissionais, e pessoas interessadas em explorar os modos do processo criativo e produtivo do artista.
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