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Tempo em que chuteira tinha prego
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

Tempo em que chuteira tinha prego

Divertido? Espontâneo? Irreverente? Brincalhão? Tiquinho era tudo isso e muito mais. Tínhamos jogado juntos no Botafogo e éramos da mesma cidade, o que aumentava a nossa intimidade
Tipo Crônica
Atacante Tiquinho defendeu o Ceará e fez gol de título estadual (Foto: Arquivo CearaSC)
Foto: Arquivo CearaSC Atacante Tiquinho defendeu o Ceará e fez gol de título estadual

De vez em quando lembro do Tiquinho. Passou a ser figura marcante dos alvinegros quando fez o gol que deu o tetracampeonato, em 1978. Diferente desse povo que corre muito dentro de campo e produz pouco, ele ocupava todo o lado esquerdo atacando e defendendo.

Cresceu nas divisões de base do Botafogo e, convocado pela CBF, foi medalha de ouro pela seleção brasileira no México, em 1975, no Pan-Americano. O olho clínico de Zagallo deve ter brilhado quando viu aquele menino habilidoso atacar e voltar para recompor o sistema defensivo.

Foi o Dimas que o trouxe para o Ceará. Na época, eu jogava no clube e, numa dessas partidas da vida, dei um passe em profundidade. Ele ficou parado. Fiquei reclamando. Passou um tempo, ele chegou ao meu ouvido e disse baixinho: “Pato novo não dá mergulho fundo”.

Que figura! Divertido? Espontâneo? Irreverente? Brincalhão? Tiquinho era tudo isso e muito mais. Tínhamos jogado juntos no Botafogo e éramos da mesma cidade, o que aumentava a nossa intimidade. Depois da história do pato novo, um ditado sempre acompanhava nossas conversas.

Bem-humorado, era um gozador nato. Certo dia rolou um papo no Botafogo que ele tinha feito concurso para ser Saci no "Sítio do Picapau Amarelo", um seriado baseado na obra de Monteiro Lobato, e que divertia as crianças no final das tardes na TV Globo do Rio de Janeiro.

O gol e o título de tetracampeão foram tão significativos para ele e para os torcedores alvinegros que, depois que parou de jogar, fixou moradia em Maracanaú. Artista que era, andava pelas ruas de Fortaleza imitando o Gomes Faria narrando o gol do Tetra.

Cruzei com ele pouco antes dele morrer, no Caís Bar da Praia de Iracema. Era um entardecer e, pelo jeito, vi que passava dificuldades. Estava com aquele olhar de peixe morto que acompanhava os ex-jogadores do nosso tempo, sempre à procura de um reconhecimento.

Tentei conversar a respeito da situação, e ele me tirou de tempo. Nunca deixava a tristeza tomar conta de uma conversa nossa. Lembro que, na despedida, virou para mim e falou: "Sérgio!". Era assim que me chamava! “O mal do urubu é pensar que o boi está morto”.

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