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O clube do povo
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

O clube do povo

Joguei no Ceará no tempo em que chuteira tinha prego. Não me sinto à vontade em julgar seus conselheiros, porque, quando vivi lá, sei que o menos comprometido era apaixonado pelo clube
Tipo Crônica
Bandeira do Ceará no gramado no jogo Sport x Ceará, na Ilha do Retiro, pela final da Copa do Nordeste 2023 (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Foto: Rafael Ribeiro / CBF Bandeira do Ceará no gramado no jogo Sport x Ceará, na Ilha do Retiro, pela final da Copa do Nordeste 2023

Do outro lado da linha, o Mario Kempes me disse, ontem à tarde, que 112 conselheiros do Ceará votaram "não" ao novo estatuto, enquanto 104 votaram "sim". Não sei dos detalhes da proposta, mas tenho apreensão porque existe um racha dentro do clube.

Joguei no Ceará no tempo em que chuteira tinha prego. Fui jogador, preparador físico, técnico de divisão de base, do time de cima e diretor no clube. Não me sinto à vontade em julgar seus conselheiros, porque, quando vivi lá, sei que o menos comprometido era apaixonado pelo clube.

O dinheiro era curto e a propaganda engatinhava. Os conselheiros davam dinheiro e palpites. Os jogadores tinham o passe preso e era comum que um torcedor escalasse o seu time, do goleiro à ponta esquerda, como se estivesse recitando uma poesia.

Os times duravam anos e se, por um lado, os jogadores se entendiam melhor dentro do campo, pelo outro lado sempre aparecia conselheiro interessado em ser presidente ou diretor e com uma proposta de renovação da equipe que julgava envelhecida. Além de mim, um outro velho se chamava Zé Eduardo.

Considerado por muitos como o melhor jogador alvinegro de todos os tempos, o super Zé fez história nas décadas de 1970 e 1980. Ceará e Fortaleza jogavam no Estádio Castelão. Não pude jogar devido a uma contusão e assisti ao jogo nas cadeiras com Alísio Cravo Roxo.

Nas fileiras abaixo, uma porção de conselheiros. Zé Eduardo se deslocava procurando criar espaço, lá estava Lucinho e sua marcação implacável. O grito dos conselheiros ecoava: “Manda esse cara embora”, “Não pega na bola”. E o primeiro tempo acabou.

No início do segundo, lançaram uma bola para a direita. Vicentinho driblou seu marcador e cruzou a bola rasteira. Zé Eduardo acompanhou o lance e chegou ao primeiro pau. Quando se esperava que fosse chutar, abriu as pernas, deixando a bola passar.

Do outro lado, Da Costa empurrou as bolas para as redes. Alísio Cravo Roxo se levantou e gritou: “Manda esse cara embora!”, “Não pega na bola”. Os conselheiros olharam para trás e silenciaram. Aqueles tempos eram duros, e o Ceará precisa voltar a ser o clube do povo.

Foto do Sérgio Redes

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