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No tempo em que chuteira tinha prego
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

No tempo em que chuteira tinha prego

Tempo em que o futebol era uma atividade lúdica e espontânea e se aprendia a jogar nas ruas e nos campos de várzea
Tipo Crônica
Jogadores da seleção brasileira posam para foto no amistoso contra os Estados Unidos, no Camping World Stadium, em Orlando (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Foto: Rafael Ribeiro/CBF Jogadores da seleção brasileira posam para foto no amistoso contra os Estados Unidos, no Camping World Stadium, em Orlando

Foi no dia 13 de maio de 1959 que a seleção brasileira de futebol enfrentou e venceu a Inglaterra por 2 a 0. O jogo tinha um caráter amistoso e fazia parte das comemorações do título de campeão mundial de futebol, conquistado em 1958 pela seleção brasileira, na Suécia.

Tinha 12 anos e assisti a esse jogo. Insisti com meu irmão Reinaldo para que me levasse. Pensei que não passaria na catraca, por conta da idade, mas o cara liberou. Subimos na direção das arquibancadas, atravessamos um dos pequenos túneis e demos de cara com o campo.

Incrível! Visto de cima, era de uma beleza rara. A banda, uns 300 fuzileiros navais, se espalhava pelo gramado, tocando marchas e dobrados, enquanto as alas, com seus componentes e instrumentos na mão, desenhavam uma âncora dentro do campo de jogo.

De repente, a Esquadrilha da Fumaça e seus aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) irromperam no alto de nossas cabeças, fazendo uma série de evoluções e acrobacias aéreas. A zoada só parou quando os altos falantes do estádio reproduziram a voz de um locutor.

"A ADEG informa: Brasil: Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi, Julinho, Henrique Frade, Pelé e Canhoteiro". Ninguém conseguiu ouvir mais nada. 120 mil pessoas que lotavam o Maracanã começaram a vaiar e não pararam mais.

Os torcedores contavam com a presença de Garrincha, que, dizem, se ausentou da concentração e quando se apresentou, parece que tinha bebido. O jogo começou e tome vaia. As vaias só cessaram quando Julinho avançou com a bola dominada pelo lado direito e, aos 7 minutos, fez o primeiro gol.

As vaias, que pareciam eternas, deram lugar aos aplausos. Tempo em que éramos campeões do mundo e todos se maravilhavam com nossos jogadores. Tempo em que o futebol era uma atividade lúdica e espontânea e se aprendia a jogar nas ruas e nos campos de várzea.

Existem exceções, mas, depois que o futebol virou “business”, perdemos a noção do que estamos fazendo. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, somos o sétimo país mais desigual do mundo; a média salarial do jogador brasileiro é de R$ 2.167.

O sonho deles não é mais jogar na seleção. O negócio é arrumar um bom contrato e jogar no exterior. Um País com os recursos naturais que tem deveria trilhar outros caminhos e cuidar com muito carinho de um produto cultural que o mundo inteiro admira.

Foto do Sérgio Redes

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