Futebol trata a arbitragem como culpada de um pecado original
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Carioca de nascimento, mas há décadas radicado no Ceará, Sérgio Rêdes — ou Serginho Amizade, como era conhecido nos campos —, foi jogador de futebol na década de 1970, tendo sido meia de clubes como Ceará, Fortaleza e Botafogo-RJ. Também foi técnico, é educador físico, professor e escritor. É ainda comentarista esportivo da TVC, colunista do O POVO há mais de 20 anos e é ouvidor da Secretaria do Esporte e Juventude do Estado
Futebol trata a arbitragem como culpada de um pecado original
Muita coisa muda no futebol. O que segue firme e forte é a recorrência das reclamações de jogadores
Foto: Rodrigo Ferreira/CBF
Bandeirinha com uniforme de arbitragem da CBF
A rivalidade entre os times de futebol nas periferias das grandes cidades deu margem a muitas brigas. O futebol era o esporte predileto e tinha jogo até de uma rua contra a outra. Onde houvesse uns metros quadrados jogavam 2 contra 2, 3 contra 3, 4 contra 4 e por aí vai.
Todo bairro tinha seu campo de futebol e os campeonatos eram organizados pelos times. A arbitragem sempre foi problema e o difícil era arrumar árbitros e bandeirinhas. Vez por outra policiais e valentões com um revólver por baixo da camisa apitavam os jogos decisivos.
Os bandeirinhas nas laterais do campo. Cada um no seu lado. Correm até hoje em sentido oposto ao árbitro e vão da linha de fundo até a linha de meio-campo. Nesse percurso estão sempre posicionados, fazendo linha com o último zagueiro e levantam a bandeira para informar qualquer infração.
Qualquer erro deles e os torcedores estão bem pertinho. Quando a confusão é por causa de impedimento, são eles os primeiros a apanhar. Criada num campo de futebol, minha geração cresceu assim. Aprendemos que o jogo é para homem e não se devia confiar no "juiz".
Aonde fossem, os aprendizes de jogadores levavam na bagagem esses procedimentos, onde imperava a falta de educação e o preconceito. Ser aproveitado num clube profissional era um passo à frente na vida e nesses clubes aumentamos o desejo de levar vantagem em tudo.
Nessa de levar vantagem, a sincronia que deve existir em uma equipe de futebol se prestava a um péssimo papel. Mal o jogo começa e o árbitro marca algo. Quer o lance seja duvidoso ou não, alguns jogadores imediatamente o cercam. Nem uma palavra sobre a falta de educação reinante.
E reclamam, reclamam tanto que, pressionado, o árbitro marca. É o império da desconfiança. Perdidos, viram motivos de piadas históricas. Diz-se dos bandeirinhas que onde eles pisam a grama não nasce mais e que o árbitro se vestia de preto por conta da profissão, e hoje se veste a cores para disfarçar.
É como se os árbitros tivessem cometido um pecado original. Comentei outro dia com um amigo que o VAR surgiu para melhorar o futebol. Olhou para mim com aquela cara de quem está de saco cheio do mundo e detonou: "Se com quatro árbitros dava problema, imagina agora com sete".
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