Carioca de nascimento, mas há décadas radicado no Ceará, Sérgio Rêdes — ou Serginho Amizade, como era conhecido nos campos —, foi jogador de futebol na década de 1970, tendo sido meia de clubes como Ceará, Fortaleza e Botafogo-RJ. Também foi técnico, é educador físico, professor e escritor. É ainda comentarista esportivo da TVC, colunista do O POVO há mais de 20 anos e é ouvidor da Secretaria do Esporte e Juventude do Estado
Foto: Letícia Martins/EC Bahia
Bola do Campeonato Brasileiro Série A 2024
Vez por outra, revejo filmes dirigidos pelo Sérgio Leone sobre a colonização americana. Vi "Era Uma Vez no Oeste", "O Bom, o Mau e o Feio" e "Quando Explode a Vingança". Nessa caminhada em que cada um trata de escapar como pode, o olhar mágico do diretor passeia por diferentes tipos.
O bandido, o caçador de cabeças, o xerife, o papa-defuntos, o jogador de baralho, a prostituta e o dono do cabaré, realçando, em todos os personagens, suas contradições e, acima de tudo, sua condição humana. Tempo em que as leis eram raras e o processo civilizatório engatinhava.
Somos assim! Fraternos e perigosos. Fazemos as leis para nos protegermos uns dos outros. E aqui entre nós, caro leitor, não existe um lugar melhor para esconder os mal feitos do que o futebol. Nesse universo de paixões, a camisa de um time de futebol é um álibi quase que perfeito.
É atrás delas que se escondem centenas de dirigentes de futebol. Sei também da insegurança que existe em pegar um ônibus e frequentar estádio, mas não vou escrever sobre essa massa de gangues ou facções que vivem brigando e também se escondem atrás de uma camisa.
O buraco é mais embaixo. Foi Charles Muller quem trouxe o futebol para o Brasil. Propagou-se rapidamente. As pessoas se organizavam como queriam e o futebol ganhou visibilidade. Percebendo a projeção, Getúlio Vargas interferiu na vida nacional e criou o Conselho Nacional do Desporto.
A partir dessa criação, com a função de controlar e tutelar, edificou-se o sistema desportivo nacional, congregando confederações, federações a nível estadual e ligas a nível municipal. O Estado Novo ganhava um mecanismo importante, capaz de manipular as massas e mexer com o orgulho do cidadão comum.
A CBF é filha direta desse decreto lei 3199/41, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. É uma entidade privada que herda e administra toda a herança patrimonialista ao cuidar de um bem público e ter seus interesses voltados para um grupo privilegiado usufruindo das regalias.
Depois que o futebol virou negócio — ou “business” —, ela tem sido a maior incentivadora da elitização do futebol brasileiro. E tome patrocínio e competições. É ela quem, no final de cada ano, envia para cada federação o calendário a ser cumprido no ano posterior. Sobram dois meses para o campeonato estadual.
Milhares de jogadores fazem contratos de três meses, com uma média salarial entre dois ou três salários mínimos, e se enfrentam nos seus Estados. O que fazer nos nove meses restantes? Vão vagar, como os personagens de Sérgio Leone, em um país que o processo civilizatório também engatinha.
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