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Dezembrites
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Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ. É mestre em Educação (UFC), doutora em Filosofia e História da Educação (PUC/SP) e tem Pós-Doutorado pela Universidad Nacional de Educacion a Distancia (UNEd), Espanha. Sua trajetória acadêmica registra 84 artigos, 133 capítulos de livros, livros e/ou organização de livros e 70 orientações (Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado)

Dezembrites

A paciência pode auxiliar a conquistar formas desaceleradas de viver em melhor sintonia com a alma. Se em vez de correr, iniciarmos o novo ano sorvendo uma boa dose deste ingrediente raro, quem sabe, os eventuais dissabores de dezembro sejam sucedidos pela magia dos bons começos
Tipo Opinião
Sofia Lerche Vieira
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Sofia Lerche Vieira Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ

Os dias de intervalo entre o fim de um ano e o início de outro nem sempre são simples. Os afazeres se somam. Compras. Compromissos. Confraternizações. De tanto celebrar, as alegrias podem perder a graça. Por outro lado, este é também um tempo de inevitáveis balanços. O que restou das promessas feitas na passagem de ano anterior? Matéria deste jornal afirma que o espírito deste misto de angústia e euforia tem um nome: dezembrite (O POVO, 22 dez. 2024). Terminando com o sufixo "ite", boa coisa não há de ser. Haveria um emoji para expressar este estado?

É verdade que existiram fatos positivos, mas em muitos sentidos este foi um ano pouco fácil. Atravessá-lo, uma tarefa árdua. Conflitos políticos armados destroçaram milhares de vidas. Intempéries da natureza destruíram o meio ambiente. O que dizer e fazer diante da inclemência do vivido? Afastando-nos de fórmulas da moda, há que se fugir dos protocolos simplificados de sobrevivência e buscar inspiração naquilo que é essencialmente humano.

A esse respeito diz Guimarães Rosa no conto "Vida Ensinada". Filosofando sobre o tema, ele diz: "Devagar e manso se desata qualquer enliço, esperar vale mais que entender, janeiro afofa o que dezembro endurece, as pessoas se encaixam nos seus veros lugares" (Rosa, 2017, pág. 630). A passagem ensina, com leveza, que paciência é um caminho para lidar com os novelos da vida. Há coisas para as quais não temos explicação. Esperar ajuda a compreender e a encontrar respostas.

Algo na mesma linha dizia o poeta indiano, Rabindranath Tagore (1841-1941), ao afirmar que "a perfeição das pedras não vem dos golpes do martelo, mas da dança e do canto da água." Tema pouco cultivado em tempos de imediatismo e consumo instantâneo, a paciência pode auxiliar a conquistar formas desaceleradas de viver em melhor sintonia com a alma. Se em vez de correr, iniciarmos o novo ano sorvendo uma boa dose deste ingrediente raro, quem sabe, os eventuais dissabores de dezembro sejam sucedidos pela magia dos bons começos. E janeiro possa reinar, afofando as intempéries que se farão presentes ao longo do ano nascente.


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